São Paulo, quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

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CLÓVIS ROSSI

As ratoeiras Rio e São Paulo

SÃO PAULO - Lá pelas seis da tarde de terça-feira, as equipes de todas as redes de TV estavam a postos na Ponte Pequena, sobre a marginal do Tietê, câmeras apontadas para o que se supunha ser o inevitável transbordamento do rio.
Abutres? Prefiro chamá-los de profissionais. Pena que não se possa usar a mesma palavra para qualificar os administradores públicos. O governador Geraldo Alckmin afirma que "não é possível fazer obra em 24 horas". Teria razão se não tivesse esquecido que ele está no governo faz 16 anos, como vice-governador, governador e secretário de Estado (gestão José Serra, aliás também do PSDB).
Já o prefeito Gilberto Kassab diz que os piscinões funcionaram. Fez-me lembrar da piadinha boba que contávamos na época dos primeiros transplantes de coração: "O transplante foi bem sucedido, mas o paciente morreu".
Pois é, os piscinões funcionaram, mas a cidade alagou.
Mas não adianta chover sobre o molhado, com perdão da frase feita que se torna sinistra nestes dias. Falar da imprevisão, do crescimento desordenado das cidades, da sujeira que o distinto público joga nas ruas, da omissão das autoridades -tudo isso já foi dito e repetido.
Vale para São Paulo, vale para o Rio de Janeiro, para Teresópolis, para Petrópolis, qualquer que seja a bola da vez. Para não me tornar excessivamente repetitivo, há um ponto pouco lembrado: não há um esquema de Defesa Civil que funcione e impeça que o paulistano, o carioca, o mineiro, caia, ano após ano, em uma ratoeira?
Se a turma da TV, que não é especialista, é capaz de antecipar-se à chuva e tomar posição antes que ela engula a cidade, por que diabos o poder público não pode já nem digo antecipar-se à chuva, mas socorrer as vítimas sem que elas passem a noite nos carros afogados nas marginais e/ou outros pontos, em vez de só resgatar corpos?

crossi@uol.com.br


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