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A importância das Bolsas
ANTONIO DELFIM NETTO
Desde meados dos anos 20 os economistas têm discutido -sem chegar a
uma conclusão- sobre o que deve ser
feito com a política monetária em circunstâncias como as atuais, em que o
ritmo dos preços dos bens e serviços e
do nível de produção da economia está caindo e o mercado de ações revela
um extremo vigor. A maioria dos economistas se inclina a reservar a política monetária para obter a estabilização do nível geral de preços, sem se
preocupar com o mercado acionário.
Estamos diante do velho dilema de
que não é possível atingir dois objetivos (manter o nível de preços dos
bens e serviços e evitar a especulação
acionária) com um único instrumento, a taxa de juro de curto prazo.
Nos anos que antecederam a crise de
1929, o então presidente do Fed insistia que a política monetária deveria
"promover a estabilidade dos preços,
a manutenção de alto nível de atividade econômica e a prevenção de "excessiva" especulação, especialmente
no mercado acionário". Ele percebia
claramente que a redução da taxa de
juros (para corrigir a dramática baixa
dos preços que estava acontecendo)
poderia acelerar ainda mais a "especulação instalada no mercado acionário". Setenta anos depois, outro presidente do Fed caracterizou não de
"excessivo", mas de "exuberante" o
crescimento dos preços das ações e
encontrou-se com o mesmo dilema:
um aumento da taxa de juros poderia
interromper sete anos de crescimento
vigoroso da economia americana com
taxa de inflação e desemprego declinantes. Em outras palavras, se usasse
a taxa de juros de curto prazo para interromper a "exuberância" do mercado acionário, corria o risco de arruinar a economia real.
O mercado acionário assumiu tal
importância na valorização do estoque da riqueza dos americanos que
uma inversão brusca e profunda de
sua tendência pode dar lugar a um
movimento de graves consequências
sobre a economia real. Em primeiro
lugar há uma dúvida razoável sobre se
existe ou não uma "bolha" no mercado americano, uma vez que, dependendo das circunstâncias, os preços
dos bens e serviços e o de um ativo
como as ações podem mover-se em
direções diferentes pelo menos durante algum tempo. Uma redução persistente e entendida como permanente
da taxa de inflação (e, consequentemente, da sua volatilidade) pode sugerir uma queda futura da taxa de juro
real de longo prazo e, ao mesmo tempo, a continuação do crescimento
econômico, o que tenderia a elevar os
preços das ações.
Em segundo lugar, dada a importância do valor acionário na riqueza
dos agentes econômicos, a sua redução pode pôr em marcha um processo
recessivo importante. De um lado, o
alto preço das ações reduz o custo de
capital para as empresas e, portanto,
estimula o investimento. De outro, ele
é percebido como um aumento da
renda permanente e estimula o consumo. Alguns estudos empíricos têm
confirmado o efeito das flutuações do
mercado acionário sobre o nível do
consumo. Um recente trabalho da
OCDE (dezembro de 1998) no G-7 (e
mais particularmente nos EUA) mostra claramente esse efeito. O mais surpreendente é que ele sugere que uma
"queda de 20% no mercado acionário
do G-7 deve reduzir, em dois anos, em
0,75% a taxa de crescimento do PIB da
OCDE". Não foi à toa nem só para
ajudar os "emergentes" que os bancos centrais reduziram a taxa de juros...
Antonio Delfim Netto escreve às quartas-feiras, nesta
coluna.
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