|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Quem é o caloteiro?
CARLOS HEITOR CONY
Rio de Janeiro - Governo, empresariado, corretores disso e daquilo, a
quase totalidade da mídia estão caindo em cima de Itamar Franco, chamando-o de caloteiro. Bolas, a tradição do calote faz parte da liturgia capitalista. Antes mesmo de 1822, data
da nossa Independência política, já
havia calote. Naquele ano, Portugal e
a maioria de seus aliados consideraram o Brasil, além de caloteiro, ingrato.
Eu me pergunto: quem é o maior caloteiro do Brasil atual? Respondo: é o
presidente FHC, que não paga a dívida social que prometeu e continua
prometendo. Pelo contrário: jogou o
Brasil numa miserabilidade que -essa sim- espanta o mundo.
Em seu governo, a distribuição de
renda, referência básica para o sucesso de um país como nação, chegou a
níveis iguais aos dessas tribos africanas centradas num soba insensível e
vaidoso.
Caloteiro é o presidente que jurou
cumprir e fazer cumprir uma Constituição que ele reformou em proveito
próprio. Compreende-se que uma Carta Magna sofra modificações ditadas
pelas circunstâncias, mas nunca em
proveito do próprio reformador. Isso
sem falar na complicada e até hoje
não apurada compra de votos para
aprovar o calote na Lei Maior do país.
Caloteiro é quem passa dois terços
de sua vida pregando, inclusive aqui
mesmo, na Folha, como lembrou outro dia o Clóvis Rossi, um primado de
justiça social. E por força desse discurso fez sua carreira política até chegar
ao poder. E lá chegando, num calote
explícito sem igual, tratou de "arrumar a casa", ou seja, tornar mais dominadora e cruenta uma infra-estrutura colonizada que faz o país regredir ao estágio de simples fornecedor de
mão-de-obra barata.
Um dos argumentos brandidos contra o governador mineiro é pueril. A
credibilidade do Brasil nunca foi lá
essas coisas, nem antes nem agora.
Com nossas contas monitoradas pelo
FMI e com os juros que pagamos, continuamos a ser uma roleta viciada a
favor do jogador.
Texto Anterior: Brasília - Fernando Rodrigues: O pavio está aceso Próximo Texto: Antonio Delfim Netto: A importância das Bolsas Índice
|