São Paulo, Quarta-feira, 13 de Janeiro de 1999
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Quem é o caloteiro?

CARLOS HEITOR CONY

Rio de Janeiro - Governo, empresariado, corretores disso e daquilo, a quase totalidade da mídia estão caindo em cima de Itamar Franco, chamando-o de caloteiro. Bolas, a tradição do calote faz parte da liturgia capitalista. Antes mesmo de 1822, data da nossa Independência política, já havia calote. Naquele ano, Portugal e a maioria de seus aliados consideraram o Brasil, além de caloteiro, ingrato.
Eu me pergunto: quem é o maior caloteiro do Brasil atual? Respondo: é o presidente FHC, que não paga a dívida social que prometeu e continua prometendo. Pelo contrário: jogou o Brasil numa miserabilidade que -essa sim- espanta o mundo.
Em seu governo, a distribuição de renda, referência básica para o sucesso de um país como nação, chegou a níveis iguais aos dessas tribos africanas centradas num soba insensível e vaidoso.
Caloteiro é o presidente que jurou cumprir e fazer cumprir uma Constituição que ele reformou em proveito próprio. Compreende-se que uma Carta Magna sofra modificações ditadas pelas circunstâncias, mas nunca em proveito do próprio reformador. Isso sem falar na complicada e até hoje não apurada compra de votos para aprovar o calote na Lei Maior do país.
Caloteiro é quem passa dois terços de sua vida pregando, inclusive aqui mesmo, na Folha, como lembrou outro dia o Clóvis Rossi, um primado de justiça social. E por força desse discurso fez sua carreira política até chegar ao poder. E lá chegando, num calote explícito sem igual, tratou de "arrumar a casa", ou seja, tornar mais dominadora e cruenta uma infra-estrutura colonizada que faz o país regredir ao estágio de simples fornecedor de mão-de-obra barata.
Um dos argumentos brandidos contra o governador mineiro é pueril. A credibilidade do Brasil nunca foi lá essas coisas, nem antes nem agora. Com nossas contas monitoradas pelo FMI e com os juros que pagamos, continuamos a ser uma roleta viciada a favor do jogador.


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