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ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAES
A esquecida malha
ferroviária
brasileira
A queda da ponte da rodovia Regis Bittencourt em Campina
Grande do Sul (PR), a subseqüente interrupção da estrada por mais de dez
horas devido a deslizamento de terra
em Miracatu (SP) e as crateras que dominam toda a malha rodoviária federal puseram em evidência a precaríssima situação do nosso transporte rodoviário.
Escrevi nesta coluna uma série de artigos antecipando os lamentáveis fatos
ocorridos e enaltecendo a necessidade
de levar a sério os investimentos em
infra-estrutura. Mais grave, escrevi
também, em 1994, a respeito da lamentável situação do transporte ferroviário ao registrar que o Brasil possuía, naquele ano, apenas 30 mil quilômetros de ferrovias, enquanto o minúsculo Japão tinha 43 mil quilômetros, a França (do tamanho de Minas
Gerais) tinha 35 mil quilômetros, a
China, quase 60 mil quilômetros, a Índia, 62 mil, e os países da ex-União Soviética tinham 150 mil quilômetros de
ferrovias.
Ressaltei o absurdo de um país continental como o Brasil ter a metade da
rede ferroviária da Índia. Passados dez
anos, a Agência Nacional de Transportes Terrestres diz que esse número
desceu para 29 mil quilômetros, e uma
reportagem do jornal "O Estado de S.
Paulo" (10/2) registrou apenas 28 mil
quilômetros.
Com tanta necessidade de transporte barato, especialmente para cargas
pesadas e de baixo valor agregado, o
Brasil transporta apenas 20% de sua
produção através das suas ferrovias.
Isso já fora visto por Irineu Evangelista de Souza -o visconde de Mauá-,
que, em 1854, bancou pessoalmente o
custo da primeira ferrovia -de 18
quilômetros-, a Rio-Petrópolis, e,
em seguida, associou-se com os ingleses para construir mais três projetos
ousados: a ferrovia Recife-São Francisco, a Dom Pedro 2º (depois Central
do Brasil) e a São Paulo Railway (rebatizada de Santos-Jundiaí).
Quando Mauá começou esses empreendimentos, os Estados Unidos já
possuíam 40 mil quilômetros de estradas de ferro. Hoje, têm mais de 200
mil, e o Brasil baixou para 28 mil. Isso
não tem cabimento...
Argumenta-se que o custo de construção de uma ferrovia é muito alto.
Mas quem assim pensa desconsidera
as despesas de uma rodovia. O transporte por automóvel ou caminhão é
altamente subsidiado. Os usuários
não pagam tudo o que usam e ocasionam nas estradas, mesmo nas pedagiadas. O uso de veículos automotores
gera inúmeras despesas indiretas, como o policiamento, os serviços de
emergência, a engenharia de tráfego, a
recuperação dos feridos, o provimento de espaço para estacionamento, o
congestionamento e a poluição, sem
contar as vidas que se perdem nos milhares de acidentes. Os Estados Unidos estimam esses custos em US$ 300
bilhões por ano!
Não há a menor dúvida. Precisamos
recuperar a precária malha rodoviária. E com urgência. Mas não podemos continuar sem metas no campo
ferroviário. Não podemos assistir passivamente ao encolhimento da já ínfima rede ferroviária do país.
Antônio Ermírio de Moraes escreve aos domingos nesta coluna.
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