|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Infiltrados
O FENÔMENO DO crescimento das milícias no Rio tem
sido muito destacado por
escancarar a inaptidão do Estado
para se fazer presente nas áreas
mais pobres. Parte da sociedade
carioca vê o controle dessas organizações em favelas e comunidades como um mal menor em
comparação com o tráfico.
O que raramente é considerado, no entanto, é a maior capacidade de infiltração desses grupos
no aparato estatal.
As milícias vêm expandindo
sua atuação. Formadas por policiais, ex-policiais, bombeiros e
agentes penitenciários, elas já
expulsaram o tráfico de ao menos 90 localidades.
O custo dessa "proteção" é cobrado dos moradores, obrigados
a pagar taxas de segurança ou a
só usar serviços e produtos autorizados pelos milicianos.
É verdade que a tolerância com
o crime organizado não surgiu
com as milícias. A diferença agora é que, como são formadas
também por policiais ou soldados da ativa, a corrupção não
acontece somente pela cobrança
de propinas. Em várias guerras
entre o tráfico e esses grupos, há
denúncias de apoio de policiais
com carros e armas oficiais.
É também preocupante constatar que esse avanço não se restringe aos limites territoriais.
Reportagem do jornal carioca "O
Globo" de domingo mostrou que
em 80% de 35 comunidades analisadas ao menos um policial,
bombeiro ou militar esteve entre
os mais votados para cargos do
Legislativo.
Há ainda fortes suspeitas de
que alguns dos vereadores ou deputados eleitos sejam ligados diretamente a milícias ou tenham
recebido apoio desses grupos,
ponto ao qual o tráfico em favelas parece nunca ter chegado. Fica cada vez mais difícil a diferenciação entre agentes da lei e seus
transgressores.
Texto Anterior: Editoriais: O dólar e o PIB Próximo Texto: São Paulo - Clóvis Rossi: Idade penal e nanismo estatal Índice
|