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Alimento na balança
Com preço da comida em elevação no mundo, agronegócio ajuda a manter perspectivas de crescimento do Brasil
A SEGUNDA crise do petróleo, no final da década de 1970, e a alta dos
juros internacionais
ocorrida na seqüência arrastaram a economia dos países em
desenvolvimento para a recessão. Como regra, grandes exportadores de petróleo (caso dos
árabes), minério (Chile) e produtos industrializados (Coréia do
Sul) conseguiram superar mais
rapidamente as dificuldades.
Mais de um quarto de século
depois, novo surto no preço de
mercadorias básicas, num contexto de resfriamento da economia americana, ameaça o crescimento mundial. Desta feita, contudo, além do petróleo, a inflação
ocorre também nos alimentos. A
chegada de centenas de milhões
de pessoas ao mercado consumidor, principalmente na China e
na Índia, mantém bastante
aquecida a procura por comida.
Nesse cenário, estão mais suscetíveis a pressões inflacionárias
que ameaçam o crescimento os
países pobres -onde a população usa grande parcela da renda
para comprar comida- e importadores de alimentos. O Brasil,
nação de renda média mas concentrada, possui certa vulnerabilidade no primeiro quesito, mas
dispõe de um trunfo no segundo:
é um dos maiores exportadores
de alimentos do planeta.
O agronegócio brasileiro vendeu a clientes estrangeiros US$
58,4 bilhões em mercadorias no
ano passado. O valor corresponde a mais de um terço de tudo o
que o Brasil exportou em 2007.
No balanço anual das transações
do agronegócio, o país obteve superávit de quase R$ 50 bilhões
-maior, portanto, que o saldo de
R$ 40 bilhões obtido na balança
de todo o comércio no período.
Tal desempenho dos produtores de alimento no comércio externo, potencializado pela alta
no preço dessas commodities, foi
um dos lastros a permitir o salto
de 32% nas importações de bens
e serviços no ano passado. As
compras do exterior, por sua vez,
deram fôlego para o aumento do
consumo dos brasileiros, assim
como para a aquisição de máquinas pelas empresas, fatores que
capitanearam a forte expansão
do PIB em 2007.
A capacidade de importar mais
ajudou a mitigar o efeito final,
nos índices de inflação, da alta
dos alimentos. Na cidade de São
Paulo, apesar de a comida ter encarecido 12,7%, a inflação média
ao consumidor em 2007 não passou de 4,4%, segundo a Fipe.
É um dado alentador, portanto, a projeção feita ontem pelo
IBGE de que o Brasil vai colher
em 2008 mais uma safra recorde
-136,5 milhões de toneladas, volume 2,7% superior ao de 2007,
que já havia sido o maior da história. Constitui mais um indicador de que o Brasil pode continuar crescendo a taxas razoáveis, baseado na expansão do
consumo e do investimento,
mesmo num contexto de baixo
dinamismo no mundo rico.
O grande complicador, no médio prazo, continua sendo a cotação do real diante do dólar -valorizada, em parte, por conta da
própria expansão do faturamento externo do agronegócio. O dilema, que torna o controle da inflação mais oneroso para a competitividade do setor industrial,
segue sem solução por parte da
política econômica e pode cobrar
um preço elevado no futuro.
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