São Paulo, sábado, 13 de fevereiro de 2010

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RUY CASTRO

Ex-túmulo do samba

RIO DE JANEIRO - Nos últimos anos, em que o Carnaval retomou as ruas do Rio e dezenas de novos blocos e bandas vieram juntar-se aos veteranos Simpatia É Quase Amor, Carmelitas, Boitatá, Barbas e aos veteraníssimos Bola Preta e Banda de Ipanema, um único bairro parecia avesso à folia: o Leblon.
Era incompreensível. Enquanto Ipanema, Copacabana, Botafogo, Laranjeiras, Jardim Botânico, Santa Teresa, o Centro e toda a zona norte se entregavam à alegria, concentrando multidões eufóricas em torno de sambas e marchinhas, o Leblon, onde moro, era chamado, e com justiça, de "túmulo do samba". Certo, aqui abundam empresários, banqueiros, escritores e outros depressivos e doentes do pé, mas onde estavam os rapazes e moças de que o Leblon também é cheio? Abrilhantando o Carnaval dos bairros vizinhos, claro.
Apenas duas vozes, muito tímidas, tentaram quebrar o silêncio do sepulcro nesses anos todos: a do Empurra Que Pega -o próprio nome já era uma súplica a adesões-, um pequeno bloco dedicado a ensaiar com grande empenho todas as noites ao pé da avenida Niemeyer, mas que nunca vi nas ruas; e a da querida e modesta banda Azeitona Sem Caroço, da rua Dias Ferreira.
Mas nada é para sempre, e estava escrito que este tríduo nos traria duas surpresas inacreditáveis: a prisão de um político, o governador do DF, José Roberto Arruda, acusado de corrupção em último grau, e a triunfal conversão do Leblon ao Carnaval -com os novos blocos Maginô Agora Amassa (cujo enredo homenageia Nelson Rodrigues), Areia e Me Esquece sacudindo o bairro e abrindo alas para o Empurra e o Azeitona. Evoé: não somos mais o túmulo do samba!
Pelo menos um desses blocos, inconformado com o fim do Carnaval, dará um jeito de desfilar na Quarta de Cinzas. Mas duvido que Arruda ainda esteja na cadeia até lá.


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