|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
RUY CASTRO
Ex-túmulo do samba
RIO DE JANEIRO - Nos últimos
anos, em que o Carnaval retomou
as ruas do Rio e dezenas de novos
blocos e bandas vieram juntar-se
aos veteranos Simpatia É Quase
Amor, Carmelitas, Boitatá, Barbas e
aos veteraníssimos Bola Preta e
Banda de Ipanema, um único bairro parecia avesso à folia: o Leblon.
Era incompreensível. Enquanto
Ipanema, Copacabana, Botafogo,
Laranjeiras, Jardim Botânico, Santa Teresa, o Centro e toda a zona
norte se entregavam à alegria, concentrando multidões eufóricas em
torno de sambas e marchinhas, o
Leblon, onde moro, era chamado, e
com justiça, de "túmulo do samba".
Certo, aqui abundam empresários,
banqueiros, escritores e outros depressivos e doentes do pé, mas onde
estavam os rapazes e moças de que
o Leblon também é cheio? Abrilhantando o Carnaval dos bairros
vizinhos, claro.
Apenas duas vozes, muito tímidas, tentaram quebrar o silêncio do
sepulcro nesses anos todos: a do
Empurra Que Pega -o próprio nome já era uma súplica a adesões-,
um pequeno bloco dedicado a ensaiar com grande empenho todas as
noites ao pé da avenida Niemeyer,
mas que nunca vi nas ruas; e a da
querida e modesta banda Azeitona
Sem Caroço, da rua Dias Ferreira.
Mas nada é para sempre, e estava
escrito que este tríduo nos traria
duas surpresas inacreditáveis: a
prisão de um político, o governador
do DF, José Roberto Arruda, acusado de corrupção em último grau, e a
triunfal conversão do Leblon ao
Carnaval -com os novos blocos
Maginô Agora Amassa (cujo enredo
homenageia Nelson Rodrigues),
Areia e Me Esquece sacudindo o
bairro e abrindo alas para o Empurra e o Azeitona. Evoé: não somos
mais o túmulo do samba!
Pelo menos um desses blocos, inconformado com o fim do Carnaval,
dará um jeito de desfilar na Quarta
de Cinzas. Mas duvido que Arruda
ainda esteja na cadeia até lá.
Texto Anterior: Brasília - Fernando Rodrigues: Brasília fracassou Próximo Texto: Cesar Maia: Escolas de samba! Índice
|