São Paulo, Sábado, 13 de Fevereiro de 1999
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UM DÓLAR QUE INCOMODA

A cotação do dólar está não apenas longe de se estabilizar como voltou a se mostrar pressionada, em torno de R$ 1,90.
Há uma incômoda proximidade com a barreira psicológica dos R$ 2 por dólar. Mas, pior que este ou aquele número ou barreira psicológica, o desconforto parece resultar de fatores objetivos.
Os mercados antecipam a provável pressão que os devedores exercerão sobre as reservas em fevereiro e ao longo dos próximos meses.
Os investidores sabem que o FMI resistiu à antecipação de recursos e que a reação no comércio exterior ocorre lentamente. Sabem que há uma forte demanda por dólares, mas percebem que o BC está evitando ao máximo gastar suas próprias reservas e, portanto, não identificam fontes capazes de atender à demanda. Apostar na alta do dólar torna-se, portanto, uma consequência lógica.
Complicando o cenário está a orientação do FMI de manter os juros elevados e até apertar ainda mais o crédito interno para tentar acelerar o ajuste recessivo e evitar a saída de capitais. Como está muito difundida a tese de que o governo não pode manter juros tão altos por muito tempo, pois não tem como ou onde arrecadar impostos para pagá-los, permanece a desconfiança.
Fica portanto evidente que os problemas associados ao controle da desvalorização cambial não se devem tanto às possíveis dificuldades de "operação" no Banco Central. Há um impasse real entre compromissos externos inadiáveis e a dificuldade de recuperar as reservas internacionais do Banco Central.
O FMI prefere não endossar o uso de seus recursos para estabilizar o câmbio se o Brasil não der mostras de que é capaz de simultaneamente controlar a inflação e reverter o desequilíbrio nas contas externas.
Os mercados, antecipando as dificuldades desse figurino estreito, tratam de projetar num real desvalorizado a percepção de possíveis sobressaltos futuros.


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