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UM DÓLAR QUE INCOMODA
A cotação do dólar está não apenas
longe de se estabilizar como voltou a
se mostrar pressionada, em torno de
R$ 1,90.
Há uma incômoda proximidade
com a barreira psicológica dos R$ 2
por dólar. Mas, pior que este ou
aquele número ou barreira psicológica, o desconforto parece resultar de
fatores objetivos.
Os mercados antecipam a provável
pressão que os devedores exercerão
sobre as reservas em fevereiro e ao
longo dos próximos meses.
Os investidores sabem que o FMI
resistiu à antecipação de recursos e
que a reação no comércio exterior
ocorre lentamente. Sabem que há
uma forte demanda por dólares, mas
percebem que o BC está evitando ao
máximo gastar suas próprias reservas e, portanto, não identificam fontes capazes de atender à demanda.
Apostar na alta do dólar torna-se,
portanto, uma consequência lógica.
Complicando o cenário está a orientação do FMI de manter os juros elevados e até apertar ainda mais o crédito interno para tentar acelerar o
ajuste recessivo e evitar a saída de capitais. Como está muito difundida a
tese de que o governo não pode manter juros tão altos por muito tempo,
pois não tem como ou onde arrecadar impostos para pagá-los, permanece a desconfiança.
Fica portanto evidente que os problemas associados ao controle da
desvalorização cambial não se devem
tanto às possíveis dificuldades de
"operação" no Banco Central. Há um
impasse real entre compromissos
externos inadiáveis e a dificuldade de
recuperar as reservas internacionais
do Banco Central.
O FMI prefere não endossar o uso
de seus recursos para estabilizar o
câmbio se o Brasil não der mostras
de que é capaz de simultaneamente
controlar a inflação e reverter o desequilíbrio nas contas externas.
Os mercados, antecipando as dificuldades desse figurino estreito, tratam de projetar num real desvalorizado a percepção de possíveis sobressaltos futuros.
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