São Paulo, Sábado, 13 de Fevereiro de 1999
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O SHOW CHEGA AO FIM

Não houve propriamente surpresa na votação do Senado norte-americano, que ontem engavetou o processo de impeachment contra Bill Clinton. A oposição republicana, majoritária em plenário, não tinha os dois terços dos votos necessários para defenestrá-lo da Casa Branca. Com a adesão de senadores da oposição à minoria democrata, o resultado acabou sendo melhor que o esperado para o presidente norte-americano.
Foram 13 meses de um fogo cruzado, cheio de segundas intenções. As relações extraconjugais de um presidente entraram em choque com a cultura puritana que exige do homem público, na vida privada, comportamento pautado pelos mesmos valores que deve demonstrar em sua atividade pública e política.
Mas a indignação com a descoberta de que Clinton tivera um caso com a Monica Lewinsky foi instrumentalizada pelos republicanos, que se esforçaram na tentativa de enfraquecer o Partido Democrata -o do presidente- e ampliar suas próprias chances de retorno ao Executivo.
A manobra falhou porque em momento algum Clinton deixou de se beneficiar do apoio da opinião pública interna. Não que por trás disso existisse uma aprovação de seu comportamento sexual. Mas porque o crescimento econômico e as taxas reduzidas de desemprego se traduziam por uma melhoria ainda maior das condições de vida no país, o que se atribuiu, em parte, ao presidente.
O episódio, de qualquer modo, provocou mundialmente mais prejuízos que lucros. O mercado financeiro registrou momentos de intenso nervosismo. Para aparentemente desviar as atenções, Clinton apertou o cerco ao Iraque, sem resultados até agora conclusivos, e bombardeou o Sudão, ao que tudo indica, inutilmente.
Por fim, o abortado impeachment, bem mais que um fato político, tornou-se um episódio exaustivamente explorado pela mídia, com a compulsiva dimensão de showbiz dado a sua cobertura nas redes de TV a cabo e nas páginas da Internet.


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