São Paulo, sábado, 13 de março de 2004

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SOB IMPACTO DO TERROR

Enquanto a Espanha velava seus mortos e marchava contra o terrorismo, seguia indefinida a questão de quem perpetrou os ignominiosos atentados de Madri. Enquanto não surgirem mais provas técnicas, será difícil chegar a uma conclusão inequívoca. Até ontem, as opiniões de especialistas em terrorismo, bem como as de serviços de segurança, permaneciam divididas.
De concreto, o grupo terrorista ETA, que normalmente assume a autoria de seus atentados, ainda que por vezes só depois de transcorrido algum tempo, negou, em ligações para veículos da mídia basca, ser o responsável pelas explosões.
Autoridades espanholas seguem afirmando que o ETA ainda é o principal suspeito, embora ressaltem que todas as linhas de investigação vêm sendo consideradas. Uma explicação para a radical mudança no estilo de atentados do ETA seria a chegada de uma nova geração à cúpula da organização. Com os antigos líderes encarcerados, assumiram o comando jovens que passaram muitos anos no exílio na França. Seriam ainda menos politizados e mais violentos.
Já a Interpol e a Europol, ao lado principalmente de membros de serviços secretos norte-americanos, inclinam-se mais pela hipótese de que o massacre tenha sido uma obra da Al Qaeda, sempre sem descartar a possibilidade de que o ETA esteja por trás das bombas. Julgam que a organização basca encontra-se demasiadamente enfraquecida para realizar uma operação dessas proporções.
Outra incógnita é o impacto que os ataques terão sobre o pleito de amanhã na Espanha. O Partido Popular (PP), de centro-direita, do premiê José María Aznar, aparecia à frente nas pesquisas. Na hipótese de o ETA ser o autor do atentado, a posição do PP, que se notabilizou pelo combate ao terror basco, tenderia a fortalecer-se.
A confirmar-se a autoria islâmica, a reação se tornaria mais ambígua. Ao menos uma parte do eleitorado poderia culpar Aznar por ter trazido o terrorismo da Al Qaeda para a Espanha, ao apoiar tão entusiasmadamente os Estados Unidos na invasão ao Iraque. É improvável, porém, que até a abertura das urnas surja uma definição clara sobre quem cometeu a carnificina de Madri.


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