São Paulo, sábado, 13 de março de 2004

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FUNDOS PARA A CIÊNCIA

É correta a disposição do novo ministro da Ciência e Tecnologia, Eduardo Campos, de abandonar os planos de seu antecessor para descentralizar os recursos investidos na área. Não se trata de ser contra a descentralização como conceito. A idéia de diminuir a excessiva concentração de laboratórios e institutos de pesquisa nos Estados mais ricos do país é uma meta a ser perseguida.
A questão é um pouco mais complexa. O ponto de partida deve ser a constatação de que fazer ciência de qualidade é um processo caro e de que os recursos disponíveis não são infinitos -muito pelo contrário, são escassos. Distribuir pouco dinheiro a muitos centros pode equivaler a desperdiçar toda a verba. A alternativa que se impõe é fazer dotações que possibilitem pesquisas consistentes e destiná-las a grupos capazes de colher bons resultados. A pulverização das verbas pode atender a interesses populistas de políticos, mas está longe de representar uma forma minimamente racional de investir em ciência e tecnologia.
Mesmo sem fragmentar demais as verbas, é possível buscar a tão almejada descentralização. Um exemplo é o planejado Instituto de Neurociências de Natal, que aos poucos começa a sair do papel. Trata-se de projeto de pesquisadores brasileiros -que desenvolvem ciência de ponta nos EUA- de criar no Rio Grande do Norte um centro de excelência internacional em pesquisas neurológicas.
O instituto, embora ainda não tenha oficialmente nascido, já conta com terreno, alguma verba federal e, principalmente, a massa crítica proporcionada por cientistas de primeira linha, o que faz a diferença.
Se todo investimento em ciência é uma aposta, cabe ao poder público colocar suas fichas em projetos com maior possibilidade de oferecer retorno. Se há uma combinação nefasta, é a do populismo com a ciência.


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