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A grande crise
Tremor nas Bolsas relançou debate sobre a dependência dos EUA de capital externo, na qual se apóia a finança global
AS CRISES financeiras em
seqüência, que marcaram a década de 1990,
mudaram o padrão de
crescimento global. Hoje são
poucos os países que ainda optam por tomar emprestado mais
capital do que geram internamente. A maioria, escaldada,
produz bens em excesso, exporta
e empresta recursos para outros
povos consumirem.
Na ponta do consumo com endividamento externo, há cada
vez menos nações dispostas a rivalizar com os
Estados Unidos. Em regra,
o mundo todo
produz excedentes para
que os americanos sustentem seu padrão
de gastos.
Na visão de
muitos economistas, trata-se
de uma forma
altamente desequilibrada de
crescimento
global, que em algum momento
vai exigir um conserto drástico.
O ex-ministro Luiz Carlos Bresser-Pereira, em coluna de ontem
nesta Folha, expressou esse entendimento, na esteira do ciclo
de turbulências que atingiu as
Bolsas no planeta.
A reviravolta na inserção internacional dos EUA remonta ao
início dos anos 1980, quando o
Fed (o banco central) promoveu
um aumento súbito e forte nos
juros a fim de atacar a inflação e
a especulação contra o dólar. O
ajuste atingiu os seus propósitos,
mas inaugurou a fase em que a
economia americana passaria a
ser cada vez mais deficitária nas
relações com o resto do mundo.
Dos maiores credores do planeta -condição na qual emergiram da Primeira Guerra Mundial-, os EUA se tornaram os
maiores devedores. Eram U$ 2,7
trilhões em obrigações externas
no fim de 2005, posição devedora que continuou a crescer com
vigor ao longo do ano passado.
Se, por alguma razão, cidadãos,
empresas e governos estrangeiros vendessem em massa títulos
públicos, ações, imóveis e outros
ativos que mantêm nos EUA, o
efeito seria cataclísmico.
Por ora não
há, porém, sinais firmes
de que o casamento de
conveniência
entre o mundo e os EUA
vá terminar
logo -e em
divórcio litigioso. O frenesi nas Bolsas não foi
capaz de abalar a confiança no dólar,
na qual se sustenta o sistema financeiro global.
Mas não está escrito em nenhuma lei natural que o atual
padrão vá permanecer indefinidamente. Seria até mesmo desejável que o mundo se afastasse
desse modelo unipolar, dessa dependência excessiva do dólar.
Tal transição, contudo, deveria
ser paulatina e negociada.
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