São Paulo, terça-feira, 13 de março de 2007

Próximo Texto | Índice

A grande crise

Tremor nas Bolsas relançou debate sobre a dependência dos EUA de capital externo, na qual se apóia a finança global

AS CRISES financeiras em seqüência, que marcaram a década de 1990, mudaram o padrão de crescimento global. Hoje são poucos os países que ainda optam por tomar emprestado mais capital do que geram internamente. A maioria, escaldada, produz bens em excesso, exporta e empresta recursos para outros povos consumirem.
Na ponta do consumo com endividamento externo, há cada vez menos nações dispostas a rivalizar com os Estados Unidos. Em regra, o mundo todo produz excedentes para que os americanos sustentem seu padrão de gastos.
Na visão de muitos economistas, trata-se de uma forma altamente desequilibrada de crescimento global, que em algum momento vai exigir um conserto drástico. O ex-ministro Luiz Carlos Bresser-Pereira, em coluna de ontem nesta Folha, expressou esse entendimento, na esteira do ciclo de turbulências que atingiu as Bolsas no planeta.
A reviravolta na inserção internacional dos EUA remonta ao início dos anos 1980, quando o Fed (o banco central) promoveu um aumento súbito e forte nos juros a fim de atacar a inflação e a especulação contra o dólar. O ajuste atingiu os seus propósitos, mas inaugurou a fase em que a economia americana passaria a ser cada vez mais deficitária nas relações com o resto do mundo.
Dos maiores credores do planeta -condição na qual emergiram da Primeira Guerra Mundial-, os EUA se tornaram os maiores devedores. Eram U$ 2,7 trilhões em obrigações externas no fim de 2005, posição devedora que continuou a crescer com vigor ao longo do ano passado.
Se, por alguma razão, cidadãos, empresas e governos estrangeiros vendessem em massa títulos públicos, ações, imóveis e outros ativos que mantêm nos EUA, o efeito seria cataclísmico.
Por ora não há, porém, sinais firmes de que o casamento de conveniência entre o mundo e os EUA vá terminar logo -e em divórcio litigioso. O frenesi nas Bolsas não foi capaz de abalar a confiança no dólar, na qual se sustenta o sistema financeiro global.
Mas não está escrito em nenhuma lei natural que o atual padrão vá permanecer indefinidamente. Seria até mesmo desejável que o mundo se afastasse desse modelo unipolar, dessa dependência excessiva do dólar. Tal transição, contudo, deveria ser paulatina e negociada.


Próximo Texto: Editoriais: Lógica temporal

Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.