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Lógica temporal
NA POLÊMICA a respeito da
utilização de preservativos que opôs, na semana
passada, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva à CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do
Brasil), não há como deixar de
dar razão a César.
A Igreja Católica é evidentemente livre para ensinar o que
bem entende a seus seguidores.
Se as autoridades eclesiásticas
julgam que o sexo fora dos laços
do matrimônio é uma grave falha
moral e que o uso da camisinha
como método contraceptivo se
opõe aos ensinamentos da religião, é legítimo que o digam com
todas as letras. Todos os católicos que desejem permanecer
bons fiéis devem procurar observar tais regras.
Não é essa, entretanto, a lógica
do Estado. O poder público é laico. Não está interessado na salvação da alma de seus cidadãos,
mas, bem mais modestamente,
no bem-estar de seus corpos. Sob
essa perspectiva, é fundamental,
como sugeriu Lula, distribuir
preservativos e ensinar sua correta utilização.
Ainda que em teoria a abstinência sexual seja o modo mais
seguro de evitar a Aids, outras
doenças sexualmente transmissíveis (DSTs) e a gravidez precoce, são massacrantes as evidências epidemiológicas de que programas que incentivam o uso da
camisinha funcionam melhor do
que seus congêneres baseados na
castidade. Não há aí nenhuma
surpresa. É muito mais fácil conseguir que um jovem se lembre
de usar preservativo quando vai
ter relações do que esperar que
renuncie ao sexo.
É imperioso que as autoridades sanitárias multipliquem os
programas de orientação sexual,
prevenção de DSTs e distribuição de camisinhas, repudiando
as posições em contrário, talvez
não como "hipócritas", como fez
Lula, mas certamente como contraproducentes e até mesmo
contrárias ao interesse público.
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