São Paulo, terça-feira, 13 de março de 2007

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Lógica temporal

NA POLÊMICA a respeito da utilização de preservativos que opôs, na semana passada, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva à CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), não há como deixar de dar razão a César.
A Igreja Católica é evidentemente livre para ensinar o que bem entende a seus seguidores. Se as autoridades eclesiásticas julgam que o sexo fora dos laços do matrimônio é uma grave falha moral e que o uso da camisinha como método contraceptivo se opõe aos ensinamentos da religião, é legítimo que o digam com todas as letras. Todos os católicos que desejem permanecer bons fiéis devem procurar observar tais regras.
Não é essa, entretanto, a lógica do Estado. O poder público é laico. Não está interessado na salvação da alma de seus cidadãos, mas, bem mais modestamente, no bem-estar de seus corpos. Sob essa perspectiva, é fundamental, como sugeriu Lula, distribuir preservativos e ensinar sua correta utilização.
Ainda que em teoria a abstinência sexual seja o modo mais seguro de evitar a Aids, outras doenças sexualmente transmissíveis (DSTs) e a gravidez precoce, são massacrantes as evidências epidemiológicas de que programas que incentivam o uso da camisinha funcionam melhor do que seus congêneres baseados na castidade. Não há aí nenhuma surpresa. É muito mais fácil conseguir que um jovem se lembre de usar preservativo quando vai ter relações do que esperar que renuncie ao sexo.
É imperioso que as autoridades sanitárias multipliquem os programas de orientação sexual, prevenção de DSTs e distribuição de camisinhas, repudiando as posições em contrário, talvez não como "hipócritas", como fez Lula, mas certamente como contraproducentes e até mesmo contrárias ao interesse público.


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