São Paulo, terça-feira, 13 de março de 2007

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CLÓVIS ROSSI

O "sociocinismo" do PT

SÃO PAULO - Só ontem consegui entender o voto de desconfiança que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva sapecara em seus companheiros do PT ao escalar parlamentares de outros partidos para todas as três lideranças do governo no Congresso.
Aliás, os três (Romero Jucá, José Múcio e Roseana Sarney) são exemplares acabados do que o PT pré-governo chamaria de representantes da "oligarquia reacionária" do Norte-Nordeste.
Depois que Lula tomou posse e passou, a cada passo, a redescobrir o Brasil (e a si próprio), são lídimos companheiros.
Se um dos três líderes fosse de um partido que não o PT, seria normal em um governo de coalizão. Dois seria exagero. Todos equivale a dizer publicamente que o PT não tem gente qualificada.
Mas faz todo o sentido. Afinal, o tal Campo Majoritário, a corrente predominante no partido, volta a se definir, em documento oficial, como "socialista". Lula já havia dito, não faz muito, que quem é de esquerda, na maturidade, não passa de um tolinho. Logo, deve achar seus companheiros "socialistas" um bando de tolinhos. Como conseqüência inescapável, não pode lhes dar papel de liderança.
Mesmo desairado, o PT se cala. Engole tudo o que vem de Lula pela simples e boa razão de que só lhe restou, dos velhos tempos, uma bandeira, chamada exatamente Luiz Inácio Lula da Silva.
Rotular-se de "socialista" não é uma demonstração de senilidade, como decretou o grande gerontólogo Lula. É puro cinismo.
A não ser que "socialismo" tenha passado a ser o predomínio dos banqueiros, a nova classe eleita dos deuses. Afinal, quatro anos de governo Lula produziram, ano após ano, lucros recordes para os bancos, como se viu no mesmo jornal que anuncia que o Campo Majoritário defende ainda o "socialismo". Peculiar socialismo esse do PT.

crossi@uol.com.br


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