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CLÓVIS ROSSI
O "sociocinismo" do PT
SÃO PAULO - Só ontem consegui
entender o voto de desconfiança
que o presidente Luiz Inácio Lula
da Silva sapecara em seus companheiros do PT ao escalar parlamentares de outros partidos para todas
as três lideranças do governo no
Congresso.
Aliás, os três (Romero Jucá, José
Múcio e Roseana Sarney) são
exemplares acabados do que o PT
pré-governo chamaria de representantes da "oligarquia reacionária"
do Norte-Nordeste.
Depois que Lula tomou posse e
passou, a cada passo, a redescobrir
o Brasil (e a si próprio), são lídimos
companheiros.
Se um dos três líderes fosse de
um partido que não o PT, seria normal em um governo de coalizão.
Dois seria exagero. Todos equivale
a dizer publicamente que o PT não
tem gente qualificada.
Mas faz todo o sentido. Afinal, o
tal Campo Majoritário, a corrente
predominante no partido, volta a se
definir, em documento oficial, como "socialista". Lula já havia dito,
não faz muito, que quem é de esquerda, na maturidade, não passa
de um tolinho. Logo, deve achar
seus companheiros "socialistas"
um bando de tolinhos. Como conseqüência inescapável, não pode
lhes dar papel de liderança.
Mesmo desairado, o PT se cala.
Engole tudo o que vem de Lula pela
simples e boa razão de que só lhe
restou, dos velhos tempos, uma
bandeira, chamada exatamente
Luiz Inácio Lula da Silva.
Rotular-se de "socialista" não é
uma demonstração de senilidade,
como decretou o grande gerontólogo Lula. É puro cinismo.
A não ser que "socialismo" tenha
passado a ser o predomínio dos
banqueiros, a nova classe eleita dos
deuses. Afinal, quatro anos de governo Lula produziram, ano após
ano, lucros recordes para os bancos,
como se viu no mesmo jornal que
anuncia que o Campo Majoritário
defende ainda o "socialismo". Peculiar socialismo esse do PT.
crossi@uol.com.br
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