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Arroz com feijão
Distribuição de marmitas e churrasco à população de baixa renda dá o tom de festividades políticas em ano de eleições locais
DIA DE FESTA em Dianópolis, sudeste de Tocantins. Não é todo
dia, afinal, que um presidente da República resolve
aparecer na localidade. Na terça-feira passada, Lula oficializava,
ao lado de 28 prefeitos, a entrega
de títulos de propriedade a 58 famílias de pequenos agricultores,
beneficiados pela primeira etapa
de um projeto de irrigação rural.
Eram 2,2 mil hectares. Outros
2,3 mil hectares foram repassados a cinco empresários. Mas
não houve, na cerimônia, quem
exigisse maior eqüidade distributiva na ação presidencial. Cerca de 5.000 pessoas comemoravam, ali, outro tipo de distribuição: a de marmitas (arroz, feijão,
carne, mandioca e refrigerante)
pagas pelo governo Marcelo Miranda (PMDB). A fila para receber o alimento estendeu-se por
meio quilômetro.
O prefeito da cidade, o petista
José Salomão Jacobina Aires, dividiu com o governo do Estado as
despesas com o transporte, em
ônibus fretados, dos cidadãos
que tinham interesse em participar da solenidade com o presidente. Vinte e oito prefeitos da
região esperavam-nos no palanque. Salomão, que se prepara para concorrer à reeleição no final
do ano, decretou feriado municipal em Dianópolis.
"É um acontecimento histórico", justificou. Seria mais exato
qualificá-lo de pré-histórico. Extinta a voga abusiva dos showmícios, volta-se ao arroz com feijão
do coronelismo tradicional.
Veio apimentado pelas considerações do presidente Lula, a
respeito das quais só se pode dizer que foram de péssimo gosto,
dado o caráter obviamente eleitoreiro do evento.
Do alto do palanque, diante de
cinco mil pessoas que esperavam
a "quentinha", o presidente criticou os governantes que tratam
os pobres como "moeda eleitoral". Só no dia das eleições, disse
Lula, "o pobre vira top model".
Fingiu ignorar, certamente, as
faixas com os dizeres "Lula lá... e
Salomão cá..." colocadas na praça
central da cidade, a poucos meses do pleito municipal.
Não se pense que só em regiões
distantes do país sobrevivem esses padrões humilhantes de manipulação do eleitorado. Nem
que apenas Lula e o PMDB se dediquem à política marmiteira.
Em São Paulo, o prefeito Gilberto Kassab, do DEM, entregou
no domingo passado as obras de
urbanização de uma favela situada às margens da represa de Guarapiranga, na zona Sul da cidade.
Pré-candidato à reeleição, viu-se homenageado com faixas que
o parabenizavam, juntamente
com o vereador Milton Leite, de
seu partido. Não ficaram, é verdade, para o melhor da festa: 100
kg de bolo, 2.000 kits de aniversário e quantidades não contabilizadas de churrasquinho foram
distribuídos aos cidadãos.
O vereador afirma ter contribuído com apenas R$ 100 para a
festividade. Pagou tudo, diz a
presidente da associação local.
Nada disso é crime, pelo menos até dia 5 de julho, quando começa oficialmente a campanha
municipal. A partir desse momento, nada de churrasquinhos.
O eleitor viverá, como diz Lula,
seus dias de top model.
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