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Um ponto e meio
Nem dados do péssimo desempenho econômico brasileiro tiram fleuma do BC, que ainda atua em ritmo de normalidade
É NATURAL , dadas a altitude
das taxas de juros no Brasil e a vertente doutrinária que prevalece no Copom, que representantes do setor produtivo critiquem toda decisão do Banco Central sobre a
Selic, seja em que sentido for. Se
reduziu a meta das taxas de curto
prazo, poderia ter sido mais ousado; se a aumentou, deveria ter
esperado mais -ou optado por
um acréscimo menor.
Ainda assim, a insatisfação externada por sindicatos patronais
e de trabalhadores, do comércio
e da indústria, a propósito da decisão desta quarta-feira tem um
significado diferente. O desapontamento não expressa, apenas, uma discordância sobre a
magnitude do corte de 1,5 ponto
percentual, que fixou a Selic em
11,25% ao ano.
Também se revela, nessas manifestações, um justo assombro
pelo fato de o BC do Brasil não se
ter alinhado a tantos congêneres
no exterior -os quais fazem
questão de enfatizar, quase diariamente, que estão com todas as
suas armas mobilizadas para o
combate à recessão.
O BC brasileiro continua agindo como se estivesse em ambiente de normalidade. Diretores se
reúnem a cada 45 dias, decidem a
meta dos juros para o período seguinte e produzem notas lacônicas e dúbias como a publicada
anteontem: "Avaliando o cenário
macroeconômico, o Copom decidiu, neste momento, reduzir a
taxa Selic para 11,25% a.a., sem
viés, por unanimidade. O comitê
acompanhará a evolução da trajetória prospectiva para a inflação até a sua próxima reunião, levando em conta a magnitude e a
rapidez do ajuste da taxa básica
de juros já implementado e seus
efeitos cumulativos, para então
definir os próximos passos (...)".
Compare-se essa nota à mensagem do Fed, o BC dos EUA,
quando cortou, de surpresa, os
juros americanos no início de
outubro: "O ritmo da atividade
econômica diminuiu marcadamente nos últimos meses. A intensificação da turbulência no
mercado financeiro vai provavelmente restringir ainda mais o
consumo (...). A inflação está alta,
mas o comitê acredita que o declínio nos preços da energia e de
outras commodities e as perspectivas mais fracas para a atividade econômica reduziram os
riscos de subida da inflação".
No momento em que ainda
não se podia ter certeza sobre a
evolução de preços e atividade
econômica nos EUA, o Fed tomou um partido claro. Cinco meses depois, quando já se sabe, entre outros dados semelhantes,
que o PIB brasileiro no 4º trimestre despencou 13,6%, em termos anualizados, e que se inverteu a tendência da inflação, o Copom não toma partido claro.
Fica ainda mais difícil evitar
que o pior efeito da crise global
-a queima desnecessária de empregos e renda- se abata sobre a
economia brasileira.
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