São Paulo, sexta-feira, 13 de março de 2009

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Um ponto e meio

Nem dados do péssimo desempenho econômico brasileiro tiram fleuma do BC, que ainda atua em ritmo de normalidade

É NATURAL , dadas a altitude das taxas de juros no Brasil e a vertente doutrinária que prevalece no Copom, que representantes do setor produtivo critiquem toda decisão do Banco Central sobre a Selic, seja em que sentido for. Se reduziu a meta das taxas de curto prazo, poderia ter sido mais ousado; se a aumentou, deveria ter esperado mais -ou optado por um acréscimo menor.
Ainda assim, a insatisfação externada por sindicatos patronais e de trabalhadores, do comércio e da indústria, a propósito da decisão desta quarta-feira tem um significado diferente. O desapontamento não expressa, apenas, uma discordância sobre a magnitude do corte de 1,5 ponto percentual, que fixou a Selic em 11,25% ao ano.
Também se revela, nessas manifestações, um justo assombro pelo fato de o BC do Brasil não se ter alinhado a tantos congêneres no exterior -os quais fazem questão de enfatizar, quase diariamente, que estão com todas as suas armas mobilizadas para o combate à recessão.
O BC brasileiro continua agindo como se estivesse em ambiente de normalidade. Diretores se reúnem a cada 45 dias, decidem a meta dos juros para o período seguinte e produzem notas lacônicas e dúbias como a publicada anteontem: "Avaliando o cenário macroeconômico, o Copom decidiu, neste momento, reduzir a taxa Selic para 11,25% a.a., sem viés, por unanimidade. O comitê acompanhará a evolução da trajetória prospectiva para a inflação até a sua próxima reunião, levando em conta a magnitude e a rapidez do ajuste da taxa básica de juros já implementado e seus efeitos cumulativos, para então definir os próximos passos (...)".
Compare-se essa nota à mensagem do Fed, o BC dos EUA, quando cortou, de surpresa, os juros americanos no início de outubro: "O ritmo da atividade econômica diminuiu marcadamente nos últimos meses. A intensificação da turbulência no mercado financeiro vai provavelmente restringir ainda mais o consumo (...). A inflação está alta, mas o comitê acredita que o declínio nos preços da energia e de outras commodities e as perspectivas mais fracas para a atividade econômica reduziram os riscos de subida da inflação".
No momento em que ainda não se podia ter certeza sobre a evolução de preços e atividade econômica nos EUA, o Fed tomou um partido claro. Cinco meses depois, quando já se sabe, entre outros dados semelhantes, que o PIB brasileiro no 4º trimestre despencou 13,6%, em termos anualizados, e que se inverteu a tendência da inflação, o Copom não toma partido claro.
Fica ainda mais difícil evitar que o pior efeito da crise global -a queima desnecessária de empregos e renda- se abata sobre a economia brasileira.


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