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CLÓVIS ROSSI
De radares e tolos
LONDRES - Para que servem juros altos? Para conter a demanda,
como é óbvio, porque ela, quando
excessiva, acaba servindo de combustível para a inflação.
No Brasil, a demanda ainda não
estava contida, mas já em queda
dramática desde 1º de outubro de
2008, pelo menos, como mostrou o
IBGE ainda outro dia. Não obstante, o Banco Central reuniu seu Comitê de Política Monetária (o que
decide os juros), em outubro, novembro, dezembro, janeiro e fevereiro, sem notar que não precisava
mais conter a demanda, pela simples e boa razão de que ela não existia, pelo menos não em níveis que
exigissem o dique dos juros obscenamente altos que o Brasil mantém
há tantos e tantos anos.
Só agora, em março, seis meses
depois de iniciado o cavalo-de-pau
na economia, o BC mexeu nos juros
de forma mais visível.
Pior: todo mundo diz que mudanças nos juros só provocam efeitos
na vida real depois de uns seis meses, pouco mais, pouco menos. Significa que, se o radar do BC funcionasse, teria reduzido substancialmente os juros em outubro ou, pelo
menos, em novembro, o que, em tese, já estaria gerando efeitos agora
(se na prática ocorreria ou não é outra discussão).
Será que não há um meio de ter
um sonar que possa detectar tsunamis e outros fenômenos menos violentos quando eles já estão em ação,
em vez de fazê-lo seis meses depois,
quando já derrubaram tudo à sua
passagem?
Se serve de consolo, registro fracasso de outro radar, o de Jack
Welch, oráculo do mundo dos negócios, ex-presidente da hoje semifalida GE, ao "Financial Times": "A
obsessão por lucros de curto prazo
e por ganhos nos preços das ações
foi uma ideia tola".
Welch é autor desses livros que
vendem como a Bíblia, tipo "Paixão
por Vencer: A Bíblia do Sucesso".
Tolos foram os que compraram,
leram -e acreditaram.
crossi@uol.com.br
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