São Paulo, sexta-feira, 13 de março de 2009

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CLÓVIS ROSSI

De radares e tolos

LONDRES - Para que servem juros altos? Para conter a demanda, como é óbvio, porque ela, quando excessiva, acaba servindo de combustível para a inflação.
No Brasil, a demanda ainda não estava contida, mas já em queda dramática desde 1º de outubro de 2008, pelo menos, como mostrou o IBGE ainda outro dia. Não obstante, o Banco Central reuniu seu Comitê de Política Monetária (o que decide os juros), em outubro, novembro, dezembro, janeiro e fevereiro, sem notar que não precisava mais conter a demanda, pela simples e boa razão de que ela não existia, pelo menos não em níveis que exigissem o dique dos juros obscenamente altos que o Brasil mantém há tantos e tantos anos.
Só agora, em março, seis meses depois de iniciado o cavalo-de-pau na economia, o BC mexeu nos juros de forma mais visível. Pior: todo mundo diz que mudanças nos juros só provocam efeitos na vida real depois de uns seis meses, pouco mais, pouco menos. Significa que, se o radar do BC funcionasse, teria reduzido substancialmente os juros em outubro ou, pelo menos, em novembro, o que, em tese, já estaria gerando efeitos agora (se na prática ocorreria ou não é outra discussão).
Será que não há um meio de ter um sonar que possa detectar tsunamis e outros fenômenos menos violentos quando eles já estão em ação, em vez de fazê-lo seis meses depois, quando já derrubaram tudo à sua passagem?
Se serve de consolo, registro fracasso de outro radar, o de Jack Welch, oráculo do mundo dos negócios, ex-presidente da hoje semifalida GE, ao "Financial Times": "A obsessão por lucros de curto prazo e por ganhos nos preços das ações foi uma ideia tola". Welch é autor desses livros que vendem como a Bíblia, tipo "Paixão por Vencer: A Bíblia do Sucesso". Tolos foram os que compraram, leram -e acreditaram.

crossi@uol.com.br


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