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FERNANDO GABEIRA
Crise de enganos
RIO DE JANEIRO - Nesta crise
econômica, fala-se de dinheiro
mais do que tudo. Bilhões, trilhões
de dólares são anunciados, anunciando investimentos (Europa,
EUA), ou por governos que pedem
ajuda (Hungria, Polônia, Ucrânia).
Mesmo não sendo economista,
arrisco algumas perguntas. Por
exemplo: de onde virá tanto dinheiro? Se ele existia até agora, por que
não foi, pelo menos em parte, usado
para mitigar os grandes problemas
da humanidade?
Pergunto de onde vem porque
minha memória de grande crise data do choque do petróleo, na década
de 70. Lembro-me do secretário
britânico James Calaghan dizendo
isto: "Não podemos mais usar Keynes, simplesmente não há recursos
para estas fórmulas".
A própria Inglaterra começou a
responder a minha pergunta. Há
dez dias, anunciou que iria imprimir dinheiro novo. Assim, entendo.
Outra grande dúvida é sobre o
Brasil. Nem vou mencionar a marolinha vista por Lula em outubro.
Houve certa onda positiva, dizendo
que o Brasil era o país que iria se
sair melhor entre todos do mundo.
É um pouco da nossa cultura: calça de veludo ou bunda de fora. Ou
somos o que mais sofre, ou o que
menos sofre, aquele capaz de ensinar aos países desenvolvidos como
se toca uma economia.
A crise que, entre nós, era apenas
um subenredo, passa a ser, a partir
de agora, uma espécie de éter, que a
tudo comunica um peso. Nos Estados Unidos, há uma propensão a rever o consumo. Aqui, um estímulo a
comprar. Lá, lançam milhares de
empregos verdes, aqui, um milhão
de casas populares.
O mais importante aqui é que o
governo gasta com empregos e custeio e não economiza para investir.
O que dizer de um programa de
aceleração do crescimento quando
o que se acelerou de fato foi o
encolhimento?
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