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FERNANDO RODRIGUES
Deficit de valores
BRASÍLIA - Lula comparou os
perseguidos políticos cubanos em
greve de fome com bandidos presos
no Brasil. Não se encontra um ser
pensante no governo para defender
o presidente em conversas privadas. A classificação da fala lulista vai
de despautério para baixo.
Em público é outra história. A ex-presa política Dilma Rousseff deu o
tom ao ser convidada a comentar:
"Vocês não vão conseguir me tirar
aqui uma crítica ao presidente Lula,
nem que a vaca tussa".
Na noite de quinta-feira, o presidente resolveu interpretar as críticas na mídia a respeito de seu amor
pelo regime autoritário de Cuba.
"Leiam os editoriais dos jornais",
recomendou. "De vez em quando, é
bom ler para a gente ver o comportamento de alguns falsos democratas, que dizem que são democratas,
mas que agem querendo que o editorial deles fosse a única voz pensante no mundo".
A reação de Lula ilustra dois aspectos relevantes da política brasileira atual. Primeiro, como a alta
popularidade produz na mesma
proporção uma atrofia no superego
presidencial. Segundo, como o conceito de democracia e direitos fundamentais é primitivo na mente do
titular do Planalto.
É possível a esta altura Lula já ter
percebido o erro cometido. Inteligente, o petista poderia pelo menos
ter dito: "Expressei-me mal".
Mas a ausência de um ato de contrição é o menor problema. O pior é
Lula jogar a sua popularidade pela
janela quando se tratou de contribuir para a consolidação dos valores da democracia na América Latina. A diplomacia petista ateve-se a
passar a mão na cabeça de governantes obtusos e ainda enroscados
em uma dobra do tempo pré-queda
do Muro de Berlim. Esse é o legado
lulista numa perspectiva de avanços e retrocessos nas instituições
democráticas do continente.
Glauco morreu. O Brasil e esta página ficam mais tristes.
fernando.rodrigues@grupofolha.com.br
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