São Paulo, domingo, 13 de março de 2011

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A aposta do BC

Ata do Copom explicita visão mais otimista da autoridade monetária com a marcha da inflação, mas ela comporta riscos ponderáveis

A ata da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, divulgada na quinta-feira, não deixa dúvidas sobre as intenções do BC.
O documento reafirma a visão da autoridade monetária de que as pressões atuais de preços tendem a ser passageiras e que a inflação deve convergir para o centro da meta (4,5%) em 2012 sem que sejam necessários aumentos draconianos de juros, como prefere parte do mercado financeiro.
No cenário do BC, uma alta adicional de juros de 0,75 ponto percentual, combinada com a hipótese de estabilidade da taxa de câmbio no patamar atual, seria suficiente para consumar a tarefa de ancorar a inflação. A ata também deixa em aberto a possibilidade de uma nova rodada de medidas administrativas, que, se adotadas, poderiam alterar a estratégia de juros, ou seja, reduzir ainda mais a necessidade de aumentos.
De início, cabe reconhecer que o BC acerta em considerar de forma mais ampla os instrumentos à disposição e que isso não significa necessariamente uma atitude leniente com a inflação.
No cenário atual de juros quase nulos e liquidez abundante nos países desenvolvidos (especialmente nos Estados Unidos, que para todos os efeitos ainda são o centro financeiro do mundo), uma política purista de alta de juros teria efeitos colaterais danosos.
Um deles seria aumentar ainda mais a entrada de dólares com fins especulativos e as pressões de valorização cambial. Apenas nos primeiros dois meses do ano, a entrada de capitais atingiu a cifra de US$ 24,3 bilhões, superando o saldo de todo o ano passado. No mesmo bimestre, as compras de dólares pelo BC somaram o valor expressivo de US$ 20,7 bilhões.
O cenário do Copom conta com a desaceleração da economia, que já parece estar em curso. São comuns projeções de crescimento da economia entre 3,5% e 4% neste ano. Conta, também, com os impactos defasados das medidas já consumadas (duas altas de juros, totalizando um ponto percentual, cortes de R$ 50 bilhões no Orçamento, restrições administrativas de crédito etc.).
Há evidente esforço de coordenação com o Ministério da Fazenda, o que é bom. Mas o documento deixa claro que o restante do governo precisará cumprir sua parte do "acordo", sob pena de forçar o BC a ação mais enérgica nos juros.
Por outro lado, o BC faz uma aposta algo arriscada quando se compromete com um cenário otimista para a inflação. A ata afirma, por exemplo, que parte substancial do choque de preços agrícolas já foi assimilada na inflação. São considerações duvidosas, na medida em que apenas nos últimos dois meses o índice de preços de alimentos calculado pelo BC subiu 11,5% (54,6% em 12 meses).
Quando se leva em conta que a inflação de serviços já alcança 8% ao ano, fica evidente que não há muita margem para erros.


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