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Que bom, Nova York é aqui
FERNANDO RODRIGUES
Brasília - O que é pior: o blecaute de
anteontem à noite e ontem de madrugada ou o blecaute de explicações do
governo?
Brasília teve ontem um dia digno de
uma republiqueta de canto de mapa.
O país passou por um dos mais graves
apagões de sua história e nenhuma,
repito, nenhuma autoridade era capaz de dar alguma explicação aceitável até o final do dia.
O mais curioso é que a energia foi
cortada e voltou. O governo era incapaz de dizer se a volta da luz ocorreu
por obra do acaso ou se algum técnico,
em algum lugar, havia tomado alguma atitude a respeito.
Perguntaram na TV a um desses burocratas do governo sobre o risco de
haver novos blecautes. A resposta beirou o patético: "Certamente que não.
Seria muito azar".
O Ministério das Minas e Energia
sugeriu que poderia ter ocorrido uma
falha em Itaipu. Alguém de Itaipu negou essa possibilidade.
O presidente da República foi o mesmo de sempre. Começou a aparecer no
noticiário só quase 20 horas depois do
ocorrido.
Assessores governistas disseram ontem, no final da tarde, que FHC tinha
sido informado do apagão pelo ministro das Minas e Energia, Rodolpho
Tourinho, no momento em que a luz
acabou -no Palácio do Alvorada não
faltou energia.
O mínimo que um presidente da República poderia fazer era informar a
mídia, no momento em que o país estava escuro, que providências seriam
tomadas. Mas FHC tem o seu ritmo, a
gente já conhece.
No final do dia, finalmente veio a
luz: foi tudo culpa de um raio. Um
raio que caiu em Bauru.
Um raio caiu em Bauru e apagou o
Brasil? É isso mesmo.
Antes que um sentimento de inferioridade recaia sobre você, leitor, lembre-se do que disse Rodolpho Tourinho: Nova York teve um blecaute de
48 horas nos anos 70.
É isso aí. Pouco a pouco o governo
FHC apaga o Brasil, mas nos leva ao
Primeiro Mundo. Nova York é aqui.
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