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CARLOS HEITOR CONY
Nada a perder
RIO DE JANEIRO - O episódio foi na semana passada, em Copacabana.
Um assaltante, encontrando resistência no dono do apartamento invadido, fugiu pela avenida Atlântica, atirou a esmo pela rua, matou um homem que bebia cerveja num bar da
calçada, feriu um guarda e foi morto
quando tentava fugir num táxi.
Fiquei mais impressionado com este incidente do que com as chacinas
que proliferam por aí, no Rio e em
outros Estados e cidades. O caso da
avenida Atlântica não pode ser atribuído ao crime organizado, ao tráfico, à corrupção policial. Foi um fato
isolado na medida em que envolveu
somente um bandido, sem capangas,
sem infra-estrutura do crime.
Ele tinha apenas uma arma e a
vontade de assaltar um apartamento
que ele considerava de luxo e no qual
podia roubar dinheiro e jóias. Não
contava com a reação do dono, que
não devia ter sido lá essas coisas, somente não se submeteu placidamente ao assalto, o que foi o bastante para fazê-lo desistir e tentar fugir.
O resto seguiu o figurino: troca de
tiros, uma vítima fatal de bala perdida, gente ferida e o bandido morto.
Tudo à luz do dia, diante da parcela
da sociedade ordeira que serviu de
cenário para o episódio.
Como explicar a audácia e o cálculo furado do bandido, crente que sozinho, com uma arma na mão, era
senhor da vida e da morte de suas vítimas? A explicação possível é que
ele, como milhares de marginais que
vivem em nosso meio, nada têm a
perder. Já cometeram outros crimes,
foram presos, fugiram ou, cumprida
a pena, voltaram para as ruas, sem
qualquer perspectiva de tentar uma
vida normal.
Alguns se organizam no crime dito
organizado. Outros começam a
atuar como frilas, bandidos artesanais que precisam viver e para viver
precisam matar. Se derem azar, morrem. Se não derem, matam e sobrevivem por mais um tempo, sem qualquer idéia de regeneração na cabeça
e sempre com uma arma na mão.
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