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CLÓVIS ROSSI
Jeitinho não basta
HAIA- O Itamaraty promove ainda
neste ano um encontro da diáspora
brasileira. Chamará representantes
de todas as comunidades de brasileiros espalhadas pelo mundo para
tratar de entender melhor os seus
problemas.
A simples convocação do encontro já reflete o crescimento de um
fenômeno relativamente recente: a
fuga para o exterior de cidadãos de
um país que era, antes, apenas importador de estrangeiros. É difícil
precisar quando a diáspora ganhou
corpo, mas daria para dizer com
pouco medo de errar que a ditadura
militar deu um primeiro empurrão.
Em seguida, vieram as duas décadas
ditas perdidas (pelo baixo crescimento econômico e pela inflação
desbocada).
O fato é que, hoje, estamos um
pouco ou muito em toda parte, com
comunidades inteiras. Até na Holanda, um país bem pequeno, de língua esquisita.
Há inclusive uma rádio em português, a "Pulsa Brasil FM in the Netherlands". Seu responsável, o mineiro João dos Santos, está há oito
anos no país, aprendeu a língua e,
anteontem, desfilava com uma filmadora portátil nas mãos atrás do
presidente Lula.
João conta que, legalizados, vivem na Holanda 11 mil brasileiros,
um quinto dos 50 mil que falam
português por aqui. Parte deles é
cabo-verdiana, como os garçons do
bufê contratado para o almoço que
a rainha Beatrix ofereceu a Lula,
que deram o popular jeitinho de
contrabandear sanduíches para os
jornalistas que entravam para a sala
do trono pela porta dos fundos.
Brasileiro adora esse "jeitinho",
tanto que, na tradução do discurso
do primeiro-ministro Jan Peter
Balkenende nesse almoço, havia
um elogio ao "otimismo e ao jeito"
do brasileiro. Pena que, na fala em
inglês, Balkenende usou "hability",
talvez por não haver "jeitinho" em
inglês ou holandês. Por isso, é bom
mesmo ouvir a diáspora, que jeitinho só não basta.
crossi@uol.com.br
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