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RUY CASTRO
Tômara que chova
RIO DE JANEIRO - Não é coisa
que se diga em São Paulo, onde o
que não tem faltado é chuva, mas
"Tomara que Chova", a marchinha
de Romeu Gentil e Paquito, finalmente encontrou quem a cante direito: "Tomára que chova/ Três dias
sem parar..." -e não "Tômara que
chova/ etc...", como a querida Emilinha Borba decretou no Carnaval
de 1951 e nunca teve quem a corrigisse. Agora, graças ao elenco do
ótimo musical "Sassaricando", a tônica pousou na sílaba certa.
Atropelos como esse vivem acontecendo. Não fosse Ronaldo Bôscoli, então seu produtor e namorado,
e Maysa teria imortalizado "O Barquinho", em 1961, cantando "Diá de
luz, festa de sol/ E um barquinho a
deslizar/ No macio azul do mar...".
Bôscoli argumentou com propriedade -afinal, era o autor da letra-
que não existe "diá", existe "dia".
Maysa estrilou ao ser corrigida, mas
acatou e poupou-se de uma gafe
histórica.
Gafe essa da qual não se livrou o
próprio João Gilberto, ao cantar
"Madame tem um párafuso a menos/ Só fala veneno, meu Deus, que
horror", em "Pra Que Discutir com
Madame", o grande samba de Janet
de Almeida e Haroldo Barbosa. De
fato, a frase musical leva a que se
cante "párafuso", mas, com esse
acento esdrúxulo, como acusar alguém de ter um parafuso a menos?
Para não falar em Vinicius de
Moraes, impecável na métrica e no
verso livre, mas que cantava: "Se vôce quer ser minha namorada/ Ah,
que linda namorada/ Vôce póderia
ser...". Seu parceiro Carlinhos Lyra,
com ouvido de músico, chamava-lhe a atenção para esses passos em
falso. Em vão: Vinicius levou a vida
cantando "Minha Namorada" com
os acentos errados.
Todo mundo, um dia, escorrega
no acento e enfatiza a sílaba errada:
cantor, jornalista, empresário, ministro, presidente. A graça está em
disfarçar e rir do erro alheio.
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