São Paulo, terça-feira, 13 de abril de 2010

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ELIANE CANTANHÊDE

Esquerda contra esquerda

BRASÍLIA - A semana passada não foi das melhores para Lula e para Dilma, que só "abriram a boca para falar besteira", como naquele velho programa humorístico de TV.
Deram a deixa para críticas dos adversários e deixaram desconfortáveis os próprios aliados.
Do alto dos seus 80% de popularidade, Lula desdenhou da Justiça e disse que não se pode ficar refém de um juiz qualquer, enquanto Dilma foi a Minas botar flores no túmulo de Tancredo Neves -que o PT simplesmente se recusou a apoiar em 1985- e aproveitou para lançar o voto "Dilmasia", sugerindo que os mineiros votem nela e no candidato tucano ao governo estadual.
Resultados: 1) o presidente do Supremo, Gilmar Mendes, teve de lembrar a Lula que o Brasil "não tem soberanos" e que ninguém está acima da lei; 2) o PMDB deu um pulo de chateação com a desfeita de Dilma a seu candidato, Hélio Costa; 3) o PSDB soltou nota e instigou Aécio Neves -tão popular em Minas quanto Lula no país- a lembrar que o PT não só não apoiou Tancredo como também virou as costas à Constituição de 1988 e ao Plano Real de Itamar e FHC.
Mas o desastre final foi quando Dilma, por inexperiência ou por estratégia equivocada, decidiu reacender uma velha discussão e jogar esquerda contra esquerda, ao comparar sua atuação contra a ditadura à de Serra. "Eu não fujo quando a situação fica difícil. Eu não tenho medo da luta", disse ela, que optou pela luta armada, enquanto Serra se exilava no Chile.
Dilma se esqueceu de um detalhe que o presidente do PPS, Roberto Freire, ex-partidão, hoje aliado de Serra, tratou de alardear: Brizola (PDT), Arraes (símbolo do PSB), Prestes (PCB), Jango (PTB) e até José Dirceu (PT) também foram exilados. Fugitivos? Será?
Havia vários motivos. Um deles era a avaliação de que pegar em armas provocaria maior radicalização do regime e uma guerra totalmente desigual. Com todo o respeito, foi ou não foi o que aconteceu?

elianec@uol.com.br


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