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ELIANE CANTANHÊDE
Esquerda contra esquerda
BRASÍLIA - A semana passada
não foi das melhores para Lula e para Dilma, que só "abriram a boca
para falar besteira", como naquele
velho programa humorístico de TV.
Deram a deixa para críticas dos adversários e deixaram desconfortáveis os próprios aliados.
Do alto dos seus 80% de popularidade, Lula desdenhou da Justiça e
disse que não se pode ficar refém de
um juiz qualquer, enquanto Dilma
foi a Minas botar flores no túmulo
de Tancredo Neves -que o PT simplesmente se recusou a apoiar em
1985- e aproveitou para lançar o
voto "Dilmasia", sugerindo que os
mineiros votem nela e no candidato
tucano ao governo estadual.
Resultados: 1) o presidente do Supremo, Gilmar Mendes, teve de
lembrar a Lula que o Brasil "não
tem soberanos" e que ninguém está
acima da lei; 2) o PMDB deu um pulo de chateação com a desfeita de
Dilma a seu candidato, Hélio Costa;
3) o PSDB soltou nota e instigou
Aécio Neves -tão popular em Minas quanto Lula no país- a lembrar
que o PT não só não apoiou Tancredo como também virou as costas à
Constituição de 1988 e ao Plano
Real de Itamar e FHC.
Mas o desastre final foi quando
Dilma, por inexperiência ou por estratégia equivocada, decidiu reacender uma velha discussão e jogar
esquerda contra esquerda, ao comparar sua atuação contra a ditadura
à de Serra. "Eu não fujo quando a situação fica difícil. Eu não tenho medo da luta", disse ela, que optou pela
luta armada, enquanto Serra se exilava no Chile.
Dilma se esqueceu de um detalhe
que o presidente do PPS, Roberto
Freire, ex-partidão, hoje aliado de
Serra, tratou de alardear: Brizola
(PDT), Arraes (símbolo do PSB),
Prestes (PCB), Jango (PTB) e até
José Dirceu (PT) também foram
exilados. Fugitivos? Será?
Havia vários motivos. Um deles
era a avaliação de que pegar em armas provocaria maior radicalização
do regime e uma guerra totalmente
desigual. Com todo o respeito, foi
ou não foi o que aconteceu?
elianec@uol.com.br
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