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CARLOS HEITOR CONY
Respeitável público
RIO DE JANEIRO - Mania recente obriga os oradores e comunicadores em geral a citar, no início de
suas falas ou discursos, o indefectível "brasileiros e brasileiras". Nas
reuniões especializadas, a expressão muda para doutoras e doutores,
acadêmicos e acadêmicas, professores e professoras, eleitores e eleitoras -e por aí vai.
Fez parte das conquistas atribuídas à campanha do feminismo mais
desvairado. As mulheres querem
ser citadas, e não englobadas genericamente no masculino tradicional. No cristianismo, durante séculos, elas não se sentiam rejeitadas.
Nem quando Bach, por exemplo,
deu a uma de suas peças mais famosas o nome de "Jesus, alegria dos
homens". Nem sobre a expressão
aceita universalmente entre os católicos, "Jesus salvador dos homens", JHS para os íntimos.
Nos circos, com a sabedoria da
tradição, prevalece a forma ambígua do "respeitável público", que
junta homens e mulheres no mesmo saco, sem distinção ou prioridade. Ninguém fica ofendido, ainda
mais porque todos se consideram
respeitáveis.
Não sei qual foi o político que por
primeiro usou a expressão "brasileiros e brasileiras". Cheira a Brizola, mas talvez tenha sido criada por
Sarney, Collor ou Ulysses Guimarães. Hoje, todos usam a distinção
de gênero, como se a humanidade
fosse constituída de dois seres especiais e estanques, quando na realidade a própria palavra (humanidade) lembra a raiz comum de todos nós: a condição humana, e não a
condição humana e feminina. Exceção notável: acabaram-se as poetisas, todos agora são poetas.
Nos shows, com plateia mais descomprometida, é tradicional o "senhoras e senhores". Prefiro o elegante "respeitável público" dos circos, é o único lugar onde todos ficamos realmente iguais como quer a
Constituição.
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