|
Próximo Texto | Índice
Sem novidades
Política industrial do governo Lula traz medidas pontuais de alívio fiscal, mas impacto total é bastante pequeno
DESDE a segunda posse
do presidente Luiz
Inácio Lula da Silva, o
governo prometia uma
"nova política industrial". A derrota da emenda que prorrogava a
CPMF adiou o anúncio do programa, supostamente para adaptá-lo à realidade fiscal.
Divulgadas, enfim, as linhas
mestras do projeto, a abordagem
mais inovadora ficou com o nome escolhido: "Plano de Desenvolvimento Produtivo" -como
se pudesse haver desenvolvimento improdutivo. A "nova política industrial" é um aglomerado de medidas fiscais, bem intencionadas mas pontuais, associado a um pequeno alívio nos juros
do BNDES e a uma junção, para
efeitos de marketing, de orçamentos estatais preexistentes.
Com os estímulos fiscais, o Tesouro se propõe a abrir mão, até
2011, de R$ 21 bilhões, média
anual irrisória pouco superior a
R$ 5 bilhões. O principal instrumento da política serão abatimentos acelerados de impostos
pagos na aquisição de bens de capital. Antes a empresa que comprava uma máquina tinha 24
meses para receber de volta o valor do PIS/Cofins desembolsado
na aquisição. Agora o prazo será
reduzido à metade.
O governo também prorrogou,
até 2010, a chamada depreciação
acelerada de bens de capital.
Com isso, as empresas podem
lançar mais depressa no seu balanço, como custo, o valor integral de um equipamento adquirido. Como a operação faz diminuir o lucro tributável da companhia, ela paga menos impostos
sobre o resultado. Juntas, a depreciação acelerada e a recuperação mais rápida do PIS/Cofins
respondem por mais de 40% da
desoneração proposta no plano
da gestão Lula.
Reduzir ao máximo os impostos sobre o investimento produtivo -em nações concorrentes,
eles tendem a zero- deveria ser
uma diretriz estratégica para o
Brasil. Ter dado mais um passo
nessa direção foi importante,
mas não se deve superestimar o
alcance, bastante limitado, das
medidas anunciadas ontem.
A respeito dos outros dois objetivos do programa -dar impulso a empresas inovadoras e às exportações-, a falta de detalhamento dificulta juízos cabais.
Sem resolver o problema da dispersão dos parcos recursos para
inovação no Brasil, um novo fundo para o setor, como o proposto,
terá baixo impacto. Apenas a extensão do fundo que funciona
como seguro de exportações a
micro, pequenas e médias empresas dificilmente vai atrair esse segmento de volta para as vendas externas.
Limitada pela falta de recursos
fiscais e de iniciativa, a atuação
do governo seria mais relevante
para a conjuntura econômica se
resolvesse reduzir seus gastos
correntes.
Próximo Texto: Editoriais: Líbano, um sintoma
Índice
|