São Paulo, terça-feira, 13 de maio de 2008

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CARLOS HEITOR CONY

Paulo Alberto

RIO DE JANEIRO - Ao voltar do exílio e tentar ressuscitar seu antigo partido, Leonel Brizola ficou triste ao saber que Artur da Távola faria parte dos dissidentes do PMDB que iriam formar o PSDB. E teve uma de suas frases típicas: "O Artur da Távola é deles, o Paulo Alberto ainda é nosso".
O cenário político havia mudado. Era importante que Paulo Alberto Monteiro de Barros, com sua formação humanística, seu caráter, seu poder de comunicação, tentasse novo caminho, levando para onde fosse a sua visão de mundo, na qual a política podia ser importante, mas não era predominante.
Não houve dualidade na existência de um Paulo Alberto e de um Artur da Távola. Mantinham e souberam manter até o fim o compromisso com a dignidade e com a cultura. Teve sucesso como político, foi deputado, senador, presidente de partido. Curtiu o exílio -sua mãe me telefonou um dia, pedindo que republicasse no "Correio da Manhã" uma crônica minha que ele levara na bagagem apressada e perdera. Uma crônica inocente, sobre os escombros de junho, os balões, as bandeirinhas de são João, as rodinhas espetadas no cabo da vassoura, devorando-se a si mesmas. Pela primeira e única vez, dediquei uma crônica a alguém: "A Paulo Alberto, no exílio".
A admiração que tinha por ele chegou ao perigoso nível de envergonhado ciúme quando recebi o livro que escreveu sobre Ravel. Fora um dos meus projetos fracassados. Tudo o que desejava dizer, ele dissera. Sua cultura musical me fascinava. Certa vez, ao me entrevistar, notou a dificuldade que tive em lembrar a letra de um velho samba de Geraldo Pereira. Paulo Alberto sabia-o de cor -mas o programa era sobre Mozart.
Ficamos mais pobres sem a presença dele, na TV e na vida.


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