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CARLOS HEITOR CONY
Paulo Alberto
RIO DE JANEIRO - Ao voltar do
exílio e tentar ressuscitar seu antigo partido, Leonel Brizola ficou
triste ao saber que Artur da Távola
faria parte dos dissidentes do
PMDB que iriam formar o PSDB. E
teve uma de suas frases típicas: "O
Artur da Távola é deles, o Paulo Alberto ainda é nosso".
O cenário político havia mudado.
Era importante que Paulo Alberto
Monteiro de Barros, com sua formação humanística, seu caráter,
seu poder de comunicação, tentasse novo caminho, levando para onde fosse a sua visão de mundo, na
qual a política podia ser importante, mas não era predominante.
Não houve dualidade na existência de um Paulo Alberto e de um Artur da Távola. Mantinham e souberam manter até o fim o compromisso com a dignidade e com a cultura.
Teve sucesso como político, foi deputado, senador, presidente de partido. Curtiu o exílio -sua mãe me
telefonou um dia, pedindo que republicasse no "Correio da Manhã"
uma crônica minha que ele levara
na bagagem apressada e perdera.
Uma crônica inocente, sobre os escombros de junho, os balões, as
bandeirinhas de são João, as rodinhas espetadas no cabo da vassoura, devorando-se a si mesmas. Pela
primeira e única vez, dediquei uma
crônica a alguém: "A Paulo Alberto,
no exílio".
A admiração que tinha por ele
chegou ao perigoso nível de envergonhado ciúme quando recebi o livro que escreveu sobre Ravel. Fora
um dos meus projetos fracassados.
Tudo o que desejava dizer, ele dissera. Sua cultura musical me fascinava. Certa vez, ao me entrevistar,
notou a dificuldade que tive em
lembrar a letra de um velho samba
de Geraldo Pereira. Paulo Alberto
sabia-o de cor -mas o programa era
sobre Mozart.
Ficamos mais pobres sem a presença dele, na TV e na vida.
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