São Paulo, Quinta-feira, 13 de Maio de 1999
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NOVA ESTAÇÃO DE CAÇA

Mais uma vez, Celso Pitta está acuado no ringue da lamentável política paulistana. Foi dado ontem o primeiro passo para a abertura do processo de cassação do prefeito de São Paulo. Nas demais estações de caça ao mandato de Pitta, a pressão se limitou à ameaça e à chantagem de vereadores, que ofertavam apoio a um prefeito abalado por escândalos em troca de fatias da administração municipal. O resultado da barganha foi o que se viu: corrupção ainda maior.
Mas desde a última temporada de ataques a Pitta se acumularam diariamente mais evidências de que a prefeitura está coalhada de irregularidades, das regionais ao PAS, passando por empresas do município.
O estoque do passivo político e judicial dos primeiros meses do mandato do prefeito só cresceu. Pitta tomou posse enredado em escândalos como o dos precatórios e estorvado por dívidas eleitoreiras em que ele e Paulo Maluf afogaram o município. Com a prefeitura entrevada e enxovalhada, 60% dos paulistanos passaram a aprovar o impeachment de Celso Pitta e outros 73% a apontar corrupção em seu governo, segundo dados de pesquisa Datafolha.
Mas a influência da opinião pública no processo de cassação deverá ser pequena ou talvez até irrelevante. Há meses as lideranças políticas, da oposição aos diversos matizes de governismo oportunista, discutem a conveniência ou não de transformar Pitta em cadáver político, importando-se pouco com aspectos objetivos do processo contra o prefeito. De resto, o negocismo da maioria dos vereadores pode bem ver no processo de impeachment mais uma feira de oportunidades e de favores, mercadejo que colaboraria para a permanência de Pitta no cargo.
Nesse cenário, em que a barganha pode dar sobrevida ao prefeito, é difícil avaliar o destino que terá o processo de cassação. Mas é certo que o estado atual da administração e do Legislativo municipais, contaminados pelo malufismo, por seus subprodutos e pela baixa moralidade da vereança, constitui infortúnio que merece séria reflexão dos eleitores.


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