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ANTONIO DELFIM NETTO
Dificuldades do Banco Central
É opinião generalizada entre os
que se interessam pela evolução
da economia que a qualidade do trabalho do Banco Central tem melhorado muito desde que o país foi levado,
em 1999, ao desastre cambial. De um
lado, continuou a imposição (talvez
até com velocidade exagerada) da legislação prudencial que vai desembocar no novo sistema de pagamentos.
De outro, a introdução de um sistema de metas inflacionárias, acompanhada de uma política de liberdade
cambial, mostrou-se eficaz, pelo menos até o momento. Todos sabem que,
em condições normais de pressão e
temperatura, com uma política fiscal
que mantém relativamente constante
a relação entre a dívida líquida e o PIB,
com estímulo suficiente às privatizações e estímulo para os investimentos
diretos externos (para cobrir boa parte do déficit em conta corrente), o sistema funciona. Nessa situação, o Banco Central acaba criando "expectativas" de inflação aceitáveis. Através delas, coordena-se a formação dos salários nominais e, consequentemente, a
formação dos preços, transformando
a "expectativa" numa realidade. Isso,
por sua vez, reforça a credibilidade da
política do Banco Central, que dispõe
de um único instrumento (a taxa de
juro nominal de curto prazo) para
atender a um único objetivo (a meta
inflacionária). A rigor, a taxa de câmbio não é problema do Banco Central.
É preciso, portanto, aceitar o fato de
que, no sistema de câmbio flutuante,
ele flutua. Quando as condições mencionadas anteriormente estão presentes, mas: 1) o país é contagiado por
efeitos externos (Argentina e Turquia); 2) há modificação nas condições de crescimento dos seus parceiros (redução do crescimento americano, do europeu e do japonês) e 3) é simultaneamente atingido por choques
de oferta internos (oferta de curto prazo de alimentos e racionamento de
energia elétrica) ou por movimentos
da moeda universal (o dólar), as flutuações do câmbio podem não ser
apenas "ruídos" em torno da taxa de
câmbio de equilíbrio.
A administração da economia fica
muito mais difícil quando ocorrem
choques de oferta. As dificuldades hoje enfrentadas pelo Banco Central são
visíveis e exigem algum aperfeiçoamento do sistema de metas inflacionárias, como temos insistido nesta coluna. Felizmente, parece que a recente
conferência sobre o problema, coordenada pelo Banco Central, mostrou
que ele está sensível a eliminar as metas "gregorianas" e a pensar em utilizar abertamente alguma forma de
"núcleo" da inflação.
Isso ajudará na formulação da política monetária, mas não eliminará as
dificuldades de lidar com os choques
de oferta. A última coisa que o Banco
Central deve fazer é alterar a meta inflacionária, pois isso seria o fim da sua
já abalada credibilidade. Agora, é
manter a meta dos 4% e procurar atingi-la num prazo de 12 a 18 meses, sem
precipitar a redução de atividade e de
emprego mais do que o necessário.
Antonio Delfim Netto escreve às quartas-feiras
nesta coluna.
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