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São Paulo, sexta-feira, 13 de junho de 2003

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CUSTO E BENEFÍCIO

Os índices de inflação recentemente divulgados produziram reações contrastantes. A maioria deles apresentou resultados bastante favoráveis -como o IGP-M, que apurou deflação de 0,26% em maio, e o IPC-Fipe, que sustenta há várias semanas ritmo de alta da ordem de apenas 0,3% ao mês. São dados que reforçam o diagnóstico de que a inflação claramente perde força. À luz desses indicadores, muitos constataram, com alívio, maiores chances de o Banco Central, enfim, animar-se a reduzir a taxa de juros básica.
Porém justamente o índice que baliza a política de metas de inflação do BC trouxe resultado menos animador. O IPCA teve alta, em maio, de 0,61%, um décimo de ponto percentual acima das expectativas do mercado. Embora a discrepância seja exígua, o resultado elevou o ceticismo quanto à queda dos juros na reunião do Copom na próxima quarta-feira.
A alta do IPCA acumulada no ano já chegou a 6,8%. A meta de inflação perseguida pelo BC é de 8,5%. Para que ela seja atingida, portanto, nos sete meses finais de 2003, o índice não poderá subir nesse período mais do que 1,6%. Sabendo-se que no segundo semestre haverá expressivas elevações de tarifas de serviços públicos, mais do que nunca o cumprimento da meta parece difícil. Não porque a inflação esteja fora de controle: longe disso, ela está em franca desaceleração. Mas a desaceleração adicional requerida para que a meta pudesse ser cumprida exigiria imenso sacrifício da atividade econômica. Seria esse sacrifício justificável?
Diante dos indicadores de queda da atividade -registrou-se um "tombo" de 4,2% na produção industrial em abril-, até mesmo analistas notoriamente conservadores passaram a reconhecer a necessidade de se iniciar a redução da taxa Selic. Considerando ainda que os juros reais, com a redução dos preços, aumentam, não parece razoável que o Copom permaneça hipnotizado pela "resistência da inflação" e ignore a economia real. Está claro que um relaxamento da política monetária se tornou imperativo para impedir que uma espiral recessiva se instaure. O custo -um ritmo ligeiramente mais lento de desaceleração da inflação- seria bem menor do que o benefício.


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