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MARTA SALOMON
Vaias e greves
BRASÍLIA - Instrumento que projetou politicamente o ex-torneiro mecânico da Villares Luiz Inácio Lula
da Silva, as greves estão mais difíceis
de prosperar do que nunca no governo do presidente Lula. Eis a avaliação feita no Planalto diante da
ameaça de greve de servidores.
Um dia depois do ato contra Lula,
ontem os funcionários públicos ainda estavam divididos entre a posição
da CUT e a das alas mais radicais da
esquerda, encabeçadas pelo PSTU.
Por ora, a greve não tem o apoio do
pessoal do Judiciário e do Legislativo,
assim como dos servidores da Receita
Federal, da Polícia Federal e do Banco Central -com maior potencial de
incomodar alguém-, avaliam os
próprios sindicalistas.
A situação é mais complicada na
iniciativa privada, cujos trabalhadores não têm a aposentadoria integral,
que os servidores querem manter,
nem estabilidade no emprego.
As campanhas salariais serão inibidas não por ação do governo para
cooptar sindicalistas ou por consideração a Lula, mas por um fantasma
maior: o desemprego.
O Ministério do Trabalho rastreou
os resultados das negociações salariais e concluiu que são mínimas as
chances de um movimento generalizado por reindexação dos salários -
um dos grandes temores do Planalto.
Um balanço parcial das negociações trabalhistas nos primeiros cinco
meses de governo Lula feito pelo
Dieese indica que a maioria dos acordos nem sequer conseguiu recuperar
a inflação passada. Só 12% obtiveram reajustes acima da inflação.
A pauta que sindicatos patronais
apresentaram para evitar demissões
de metalúrgicos foi mais um sinal dos
tempos bicudos. Fala-se até em redução de salário, segundo o relato de
Claudia Rolli ontem na Folha.
O ex-sindicalista Lula já tem no seu
currículo de governante as primeiras
vaias de trabalhadores e as primeiras
greves. A reforma da Previdência é o
primeiro grande teste de relacionamento com os sindicatos. O maior
deles será em setembro, mês dos dissídios dos bancários e dos petroleiros.
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