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MARCELO BERABA
Meios e fins
RIO DE JANEIRO - É um estrago o que o governo do PT está fazendo no
que resta de sistema partidário. As legendas estão sendo literalmente implodidas: a base de apoio do governo
incha através de meios sempre indecentes e a oposição é tratada como
inimigo de Estado.
É verdade que a tradição e a fragilidade dos partidos, acostumados às
benesses da administração pública,
ajudam muito esse jogo do Planalto,
que, por diversas vezes, nem precisou
ser pesado, tal a disponibilidade dos
assediados.
O que choca não é a cena grotesca
da multidão de ávidos deputados e
senadores correndo atrás de migalhas, porque isso se repete a cada novo governo. O problema maior está
realmente no empenho em esgarçar
de vez o sistema partidário, o que
contraria a história do PT e a utopia
que vendeu ao longo de tantos anos.
A desmoralização dos partidos
através do incentivo às negociações
individuais e aos troca-trocas desmente a vontade anunciada de fazer
a reforma política. A falta de escrúpulos mais uma vez vai ser justificada com argumentos ditos realistas,
do tipo "os fins justificam os meios"
-no caso, a contratação, a qualquer
preço, de uma base de apoio parlamentar.
O domínio do Congresso não se limita, no entanto, às intervenções nos
partidos. A proteção ao senador Antonio Carlos Magalhães, fartamente
acusado de manipulação de grampos
ilegais, e as tentativas de impedir a
constituição da CPI do Banestado fazem parte do mesmo jogo.
Fernando Henrique também anistiou um senador (Humberto Lucena,
PMBD-PB, condenado por crime
eleitoral) e, como Lula, abafou todas
as CPIs que pôde. Estão, portanto,
também aí, empatados.
O resultado desse rolo compressor é
o desrespeito à vontade das urnas,
um desastre para a formação de uma
cultura democrática. Mas quem ainda pode estar interessado em princípios democráticos?
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