São Paulo, domingo, 13 de junho de 2004

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TENDÊNCIAS/DEBATES

A Unctad e as indústrias criativas

EDEMAR CID FERREIRA

São Paulo será sede de um evento da maior importância para todas as pessoas e empresas envolvidas com comércio internacional, investimentos, tecnologia e indústrias criativas -aquelas que lidam com arte, cultura, informação, entretenimento, difusão de idéias, imagens e voz. Refiro-me à 11ª Reunião Quadrienal da Unctad (Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento), de hoje ao dia 18 de junho.
O momento é mais do que oportuno para essa reunião de países em desenvolvimento acontecer no Brasil, agora que o país exibe vigor em suas exportações, acaba de obter uma vitória na Organização Mundial do Comércio (OMC), ainda que preliminar, contra os subsídios norte-americanos ao algodão, está em plena negociação de acordos internacionais e dá novo impulso às relações Sul-Sul, como mostra a bem-sucedida visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à China, no final de maio.
Num ambiente rico em diversidade cultural e étnica, em que se realizará a próxima reunião da Unctad, propício à troca de idéias e realizações, a BrasilConnects contará a sua saga. Foi com grande satisfação que recebemos o convite para apresentar o "case" BrasilConnects no painel de alto nível sobre Indústrias Criativas e Desenvolvimento, do qual participarão, entre outras personalidades, o ministro da Cultura, Gilberto Gil, e o secretário-geral da Unctad, embaixador Rubens Ricupero.
Nossa ONG se insere no setor de indústrias criativas, pois lidamos com patrimônio cultural e sua conservação. Somos uma instituição que produz, promove e divulga patrimônios culturais de memória. A BrasilConnects já realizou 49 exposições nestes últimos quatro anos, com 80 patrocinadores nacionais e internacionais e um total de R$ 150 milhões de mídia espontânea. Ao completar quatro anos de existência, nossa ONG contabiliza exposições em 12 países e um público de 8 milhões, dos quais 5,5 milhões no Brasil. A mostra "Picasso na Oca" foi a última no Brasil.
Uma audiência brasileira representativa pôde descobrir outras culturas em exposições como "Os Guerreiros de Xi'an", "Parade" e "A Bigger Splash".
A "Mostra do Redescobrimento", no parque Ibirapuera, em 2000, pode ser considerada o momento do "grito", do surgimento de um novo paradigma em matéria de arte e cultura. Concretizou-se o que o Estado não foi capaz de empreender. A mostra "Brasil + 500" transformou o sonho de muitos em realidade. E foi, no sentido adotado por Emile Poulat, um "grito", que antecede o pensamento, que, por fim, precede a estratégia. Passado o momento do grito, a BrasilConnects começou a se impregnar de uma cultura empresarial.


Somos uma instituição que produz, promove e divulga patrimônios culturais de memória
A partir de uma visão de futuro, estruturou-se um novo pensamento. Uma cristalização de conduta orientada para o negócio das exposições com patrocínio, bilheteria e venda de objetos ligados à exposição na loja. Um bom negócio, que justificava os investimentos do próprio Banco Santos. Resumidamente, a organização assumiu os riscos, mas já a partir da mostra sobre a China, em 2003, a BrasilConnects chegou a um ponto de equilíbrio entre os desembolsos e recursos captados. É o início de novos tempos de auto-sustentabilidade.
O "turning point" em matéria de patrocínio da BrasilConnects foi o Bradesco, que se associou à marca Picasso. Um dos maiores bancos privados brasileiros entendeu que se tratava de uma boa exposição para associar a sua marca. O retorno para o Bradesco foi melhorar a sua imagem, beneficiando-se dessa associação com o mundo das artes.
A trajetória bem-sucedida nas atividades ligadas à cultura e ao meio ambiente estimula agora a BrasilConnects a planejar seu futuro de olho na consolidação da auto-sustentabilidade. A nova ação estratégica que está sendo desenvolvida prevê um ciclo mais longo para as exposições temáticas, que percorrerão o mundo, incluindo os espaços museológicos de países ricos que queiram receber e descobrir o outro, uma cultura distinta.
Em consonância com a estratégia de priorizar programas integrados e de ciclo longo, a BrasilConnects começou a trilhar um caminho que resume o novo pensamento da entidade: atingir a auto-sustentabilidade, associar-se cada vez mais a grandes marcas e atuar como o principal braço da diplomacia cultural brasileira. A BrasilConnects pretende servir de ponte entre as sociedades, tornando suas exibições entretenimento de elevada densidade cultural, que complementa os acordos diplomáticos firmados entre o Brasil e seus parceiros.

Edemar Cid Ferreira, 60, economista, é o presidente do Banco Santos e da BrasilConnects.


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