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FERNANDO RODRIGUES
Caça à "prova material"
BRASÍLIA - Roberto Jefferson diz não ter provas porque não as tem ou porque sua estratégia mais adiante é
apresentar evidências materiais e
desmoralizar quem hoje nega suas
acusações? Impossível responder.
Ao acusar frontalmente o ministro
José Dirceu (Casa Civil) de participar
de encontros sobre divisão de poder
com o "PTB e adjacências", como diz
Lula, Roberto Jefferson faz uma
ameaça: "Eu duvido, du-vi-do, que
ele negue o que eu estou dizendo".
O que levaria o presidente nacional
de um partido aliado ao Palácio do
Planalto a repetir, de maneira sincopada, um desafio ("du-vi-do")? Também impossível responder. Já no sábado, José Dirceu pagou para ver.
Afirmou ser "tudo mentira".
Por enquanto, a estratégia de Jefferson nesse caso do "mensalão" parece
ser oferecer detalhes que dêem verossimilhança a seus relatos. Fez assim
ao citar frases supostamente pronunciadas por Dirceu sobre a revista "Veja" ("é tucana") e o jornal "O Globo"
("dá para segurar").
Quem conhece Dirceu sabe. São
enormes as chances de o ministro ter
proferido tais juízos de valor sobre a
imprensa -aliás, é fascinante o desprezo nutrido dentro do PT pela mídia, justamente esse partido tendo sido incensado por grande parte dos
jornalistas nos últimos 25 anos.
Para o governo, tudo se resume
agora ao fato de "não haver provas".
Falam como se Jefferson fosse um
transeunte desqualificado. Não é.
Trata-se do presidente do PTB, pessoa a quem Lula deu confiança e freqüentou nos últimos meses.
A hipótese de surgir uma prova de
carne e osso é imponderável. É verdade. Mas Lula e sua tropa arriscam-se
muito ao apenas apostar no silêncio
de todos os citados. É uma opção tática frágil. No máximo, trata-se de torcer contra o aparecimento de evidências materiais do "mensalão". Os violinistas do Titanic também tinham
esperança. Até porque não havia botes salva-vidas para todos.
@ - frodriguesbsb@uol.com.br
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