São Paulo, segunda-feira, 13 de junho de 2005

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FERNANDO RODRIGUES

Caça à "prova material"

BRASÍLIA - Roberto Jefferson diz não ter provas porque não as tem ou porque sua estratégia mais adiante é apresentar evidências materiais e desmoralizar quem hoje nega suas acusações? Impossível responder.
Ao acusar frontalmente o ministro José Dirceu (Casa Civil) de participar de encontros sobre divisão de poder com o "PTB e adjacências", como diz Lula, Roberto Jefferson faz uma ameaça: "Eu duvido, du-vi-do, que ele negue o que eu estou dizendo".
O que levaria o presidente nacional de um partido aliado ao Palácio do Planalto a repetir, de maneira sincopada, um desafio ("du-vi-do")? Também impossível responder. Já no sábado, José Dirceu pagou para ver. Afirmou ser "tudo mentira".
Por enquanto, a estratégia de Jefferson nesse caso do "mensalão" parece ser oferecer detalhes que dêem verossimilhança a seus relatos. Fez assim ao citar frases supostamente pronunciadas por Dirceu sobre a revista "Veja" ("é tucana") e o jornal "O Globo" ("dá para segurar").
Quem conhece Dirceu sabe. São enormes as chances de o ministro ter proferido tais juízos de valor sobre a imprensa -aliás, é fascinante o desprezo nutrido dentro do PT pela mídia, justamente esse partido tendo sido incensado por grande parte dos jornalistas nos últimos 25 anos.
Para o governo, tudo se resume agora ao fato de "não haver provas". Falam como se Jefferson fosse um transeunte desqualificado. Não é. Trata-se do presidente do PTB, pessoa a quem Lula deu confiança e freqüentou nos últimos meses.
A hipótese de surgir uma prova de carne e osso é imponderável. É verdade. Mas Lula e sua tropa arriscam-se muito ao apenas apostar no silêncio de todos os citados. É uma opção tática frágil. No máximo, trata-se de torcer contra o aparecimento de evidências materiais do "mensalão". Os violinistas do Titanic também tinham esperança. Até porque não havia botes salva-vidas para todos.


@ - frodriguesbsb@uol.com.br

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