São Paulo, terça-feira, 13 de junho de 2006

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ELIANE CANTANHÊDE

Aterrissagem

BRASÍLIA - Há mais de um ano, em 9 de abril de 2005, comecei reportagem na Folha (pág. B7) assim: "O governo esgotou todas as possibilidades para salvar a Varig e jogou a toalha". Previa o pedido de recuperação judicial ou de falência, pura e simples, e que as linhas seriam fatiadas entre TAM, Gol e BRA. Elas já estavam se equipando.
Pilotos e comissários de vários pontos do país mandaram e-mails irritados. Tentei explicar que a culpa não era minha, nem mesmo do governo. Era, basicamente, de um descontrole organizacional e financeiro durante décadas. Além disso, houve erro de avaliação dos próprios funcionários. Em 2003, já piscava o sinal vermelho, e eles, ingenuamente, se aliaram à Fundação Ruben Berta para inviabilizar a solução possível: a fusão com a TAM. Perdiam-se os anéis, mas salvavam-se dedos: a bandeira e boa parte dos empregos.
A proposta foi para o lixo antes mesmo que Lula defenestrasse seus principais articuladores, José Dirceu e José Viegas. Depois disso, uma sucessão de equívocos: idéias precárias, projetos megalomaníacos, um festival de consultorias. Já em 2006, declarou que "não é papel de governos salvar empresas falidas", e os ministros se limitaram a aguardar uma "saída de mercado". Ou seja, jogaram a toalha e, agora, lavam as mãos. E não se pode condená-los por isso. O que há é uma lista de não-saídas: a TAP, a OceanAir, Nelson Tanure, as propostas desesperadas dos funcionários. Nada que o governo e o mercado levem a sério, enquanto a companhia perde espaço, linhas e aviões. Só ontem, cancelou 20 vôos.
Não adiantou a torcida -irracional, claro. A "nossa Varig" caminha tristemente para o mesmo fim de Panam (americana), Panair, Transbrasil e Vasp. A diferença é que deixa um vácuo maior. E ainda não devidamente dimensionado.


@ - elianec@uol.com.br

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