|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ELIANE CANTANHÊDE
Aterrissagem
BRASÍLIA - Há mais de um ano,
em 9 de abril de 2005, comecei reportagem na Folha (pág. B7) assim:
"O governo esgotou todas as possibilidades para salvar a Varig e jogou
a toalha". Previa o pedido de recuperação judicial ou de falência, pura e simples, e que as linhas seriam
fatiadas entre TAM, Gol e BRA.
Elas já estavam se equipando.
Pilotos e comissários de vários
pontos do país mandaram e-mails
irritados. Tentei explicar que a culpa não era minha, nem mesmo do
governo. Era, basicamente, de um
descontrole organizacional e financeiro durante décadas.
Além disso, houve erro de avaliação dos próprios funcionários. Em
2003, já piscava o sinal vermelho, e
eles, ingenuamente, se aliaram à
Fundação Ruben Berta para inviabilizar a solução possível: a fusão
com a TAM. Perdiam-se os anéis,
mas salvavam-se dedos: a bandeira
e boa parte dos empregos.
A proposta foi para o lixo antes
mesmo que Lula defenestrasse
seus principais articuladores, José
Dirceu e José Viegas. Depois disso,
uma sucessão de equívocos: idéias
precárias, projetos megalomaníacos, um festival de consultorias.
Já em 2006, declarou que "não é
papel de governos salvar empresas
falidas", e os ministros se limitaram a aguardar uma "saída de mercado". Ou seja, jogaram a toalha e,
agora, lavam as mãos. E não se pode
condená-los por isso. O que há é
uma lista de não-saídas: a TAP, a
OceanAir, Nelson Tanure, as propostas desesperadas dos funcionários. Nada que o governo e o mercado levem a sério, enquanto a companhia perde espaço, linhas e
aviões. Só ontem, cancelou 20 vôos.
Não adiantou a torcida -irracional, claro. A "nossa Varig" caminha
tristemente para o mesmo fim de
Panam (americana), Panair, Transbrasil e Vasp. A diferença é que deixa um vácuo maior. E ainda não devidamente dimensionado.
@ - elianec@uol.com.br
Texto Anterior: Berlim - Clóvis Rossi: Pior que o pior Próximo Texto: Rio de Janeiro - Carlos Heitor Cony: O mapa da mina Índice
|