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CARLOS HEITOR CONY
O mapa da mina
RIO DE JANEIRO - Já foi dito diversas vezes que o brasileiro, que
não é mais cordial como os sociólogos pensavam, é capaz de inventar o
círculo quadrado ou dar nó em pingo d'água. A inventiva nacional é
farta e abundante. E acho que está
em processo uma nova proeza, inédita na história universal: a ditadura democrática.
Explico: a menos que ocorra um
fato novo e grave (os escândalos de
seu governo só impressionaram a
mídia e a classe média que é bitolada pela mídia), o grosso do eleitorado nem está aí para o que houve.
Votará em Lula, que tem a maior
exposição e a menor contestação
popular. Não apareceu no cenário
político (e muito menos no cenário
eleitoral) um adversário de peso
que o enfrente nas urnas e na preferência do povo.
Se é certa a sua reeleição, é certa
também a sua incompetência em
governar, em administrar não apenas a máquina do Estado mas as
correntes heterogêneas que formam a sociedade. É um demagogo
vulgar, e só não chega a ser um tirano porque lhe faltam condições para isso: no fundo, é um bom sujeito.
Mas seu novo governo não terá
estrutura nenhuma para levar o
país a qualquer lugar, a não ser ao
crescimento vegetativo de seu primeiro mandato. Ele não terá equipe
nem mesmo um esquema de forças
sociais que o apóiem. Será eleito e
governará com os náufragos de diferentes partidos (inclusive do seu
partido), que embarcarão em sua
canoa -a única que parece ainda
flutuar no tenebroso mar da política nacional.
Um ditador eleito democraticamente e aceitando críticas, esculhambações até do Ronaldo, e contestações, mas confiante de que o
povão o aprova e o admira pelo que
é e pelo que não é. Um ditador que
achou o mapa da mina: torça pelo
Corinthians, beba sua pinga, fale
mal dos ricos e deixe o país se danar.
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