São Paulo, quarta-feira, 13 de junho de 2007

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Mais tapa-buraco

Pacote federal para setores afetados pelo real valorizado tem pouca chance de melhorar sua capacidade de competir

O GOVERNO federal finalmente anunciou como pretende revigorar a capacidade de competir de ramos industriais particularmente afetados pela valorização do real. Incapaz de oferecer resposta sistêmica ao problema, recorreu à técnica do remendo, a mesma usada no fim de 2005 na anedótica operação para tapar buracos nas rodovias.
Linhas de crédito subsidiadas pelo Tesouro Nacional -isto é, pelos contribuintes- no valor de R$ 3 bilhões serão oferecidas a empresas dos setores calçadista, têxtil, moveleiro, de confecções e de artefatos de couro. Firmas com receita anual de até R$ 300 milhões poderão usufruir de financiamento com juros a partir de 5,6% ao ano, no caso de contratarem novos investimentos.
O governo também se dispõe a antecipar e a ampliar renúncias fiscais em favor desses segmentos. Entre o que o erário bancará diretamente e o que deixará de arrecadar no curto prazo, a conta do programa para quem paga impostos vai superar R$ 1 bilhão, segundo a estimativa oficial.
É improvável, porém, que tais benefícios possam equacionar o problema que o pacote pretende atacar, o da competitividade dessa fatia da indústria. As medidas mal tocam na estrutura de custos exteriores ao chão da fábrica que encarece os produtos brasileiros na comparação com similares importados. Oferecem algum alívio financeiro, no crédito para capital de giro, e discreto incentivo fiscal para exportadores.
O êxito dos programas para facilitar novos investimentos, um dos focos do pacote, vai depender da expectativa dos empresários de que venderão mais no futuro. É difícil que essa disposição para investir desperte quando as condições que favorecem os produtos estrangeiros permanecem intactas -a começar da taxa de câmbio, mas sem parar aí.
Os segmentos industriais que mais sofrem com a queda do dólar possuem a característica comum de empregar relativamente muita mão-de-obra. Sem baixar o custo da folha de pagamentos, essas empresas não terão condições de melhorar sua competitividade. Quando muito, tomarão recursos subsidiados para atrelar sua produção a uma cadeia de insumos e produtos semi-acabados importados, com perda de empregos no país.
Desoneração trabalhista e fiscal generalizada, programas agressivos de atração de capital privado para a infra-estrutura, além da redução mais veloz da ainda elevada taxa de juros básica, constituem a melhor agenda para enfrentar os problemas de competitividade que, em maior ou menor grau, atingem o conjunto das empresas no Brasil.
Em vez de mirar a floresta, o governo Lula preferiu tratar de algumas árvores isoladas. Insiste em desperdiçar oportunidades que a história econômica mundial raramente reúne.


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