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Mais tapa-buraco
Pacote federal para setores afetados pelo real valorizado tem pouca chance de melhorar sua capacidade de competir
O GOVERNO federal finalmente anunciou como
pretende revigorar a
capacidade de competir de ramos industriais particularmente afetados pela valorização do real. Incapaz de oferecer
resposta sistêmica ao problema,
recorreu à técnica do remendo, a
mesma usada no fim de 2005 na
anedótica operação para tapar
buracos nas rodovias.
Linhas de crédito subsidiadas
pelo Tesouro Nacional -isto é,
pelos contribuintes- no valor de
R$ 3 bilhões serão oferecidas a
empresas dos setores calçadista,
têxtil, moveleiro, de confecções e
de artefatos de couro. Firmas
com receita anual de até R$ 300
milhões poderão usufruir de financiamento com juros a partir
de 5,6% ao ano, no caso de contratarem novos investimentos.
O governo também se dispõe a
antecipar e a ampliar renúncias
fiscais em favor desses segmentos. Entre o que o erário bancará
diretamente e o que deixará de
arrecadar no curto prazo, a conta
do programa para quem paga impostos vai superar R$ 1 bilhão,
segundo a estimativa oficial.
É improvável, porém, que tais
benefícios possam equacionar o
problema que o pacote pretende
atacar, o da competitividade dessa fatia da indústria. As medidas
mal tocam na estrutura de custos
exteriores ao chão da fábrica que
encarece os produtos brasileiros
na comparação com similares
importados. Oferecem algum
alívio financeiro, no crédito para
capital de giro, e discreto incentivo fiscal para exportadores.
O êxito dos programas para facilitar novos investimentos, um
dos focos do pacote, vai depender da expectativa dos empresários de que venderão mais no futuro. É difícil que essa disposição
para investir desperte quando as
condições que favorecem os produtos estrangeiros permanecem
intactas -a começar da taxa de
câmbio, mas sem parar aí.
Os segmentos industriais que
mais sofrem com a queda do dólar possuem a característica comum de empregar relativamente muita mão-de-obra. Sem baixar o custo da folha de pagamentos, essas empresas não terão
condições de melhorar sua competitividade. Quando muito, tomarão recursos subsidiados para
atrelar sua produção a uma cadeia de insumos e produtos semi-acabados importados, com
perda de empregos no país.
Desoneração trabalhista e fiscal generalizada, programas
agressivos de atração de capital
privado para a infra-estrutura,
além da redução mais veloz da
ainda elevada taxa de juros básica, constituem a melhor agenda
para enfrentar os problemas de
competitividade que, em maior
ou menor grau, atingem o conjunto das empresas no Brasil.
Em vez de mirar a floresta, o
governo Lula preferiu tratar de
algumas árvores isoladas. Insiste
em desperdiçar oportunidades
que a história econômica mundial raramente reúne.
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