|
Próximo Texto | Índice
Chicana parlamentar
Senadores deveriam rejeitar a nova CPMF, a qual escarnece da decisão soberana que derrotou o imposto em dezembro
A CONTRIBUIÇÃO Social
para a Saúde, o novo
nome inventado pelo
governismo para o imposto do cheque, passou raspando na Câmara. Com margem de
dois votos, o projeto de lei complementar em que o Planalto deposita expectativas de revanche
política, vai ao Senado -a Casa
que, em dezembro, rejeitou a renovação da CPMF.
Numa tentativa matreira de
contornar as dificuldades que inviabilizaram a emenda constitucional no fim do ano, os estrategistas do governo optaram pela
lei complementar. Ao contrário
daquela modalidade, que para
ser aprovada exige apoio de três
quintos dos congressistas de cada Casa em quatro votações, a lei
complementar requer maioria
absoluta e uma votação apenas
em cada plenário.
Apesar das facilidades de trâmite que o subterfúgio prometia,
os governistas obtiveram 259 votos a favor do novo imposto na
Câmara. A "causa" perdeu 79 sufrágios em relação aos 338 obtidos em setembro, na aprovação
em primeiro turno da emenda da
CPMF. A taxa de defecção na base governista, na sessão de anteontem, foi de 30%.
Essa CPMF envergonhada que
sai da Câmara -cuja vigência começaria em 2009, com alíquota
de 0,1%, contra os 0,38% da que
vigorou até dezembro- possui
boas chances, portanto, de ter o
mesmo destino da original. Vale
lembrar que o governo obteve,
no Senado, 44 votos a favor da
emenda que dava sobrevida ao
imposto do cheque. Terá de assegurar ao menos 41 para ressuscitá-lo por lei complementar.
Além disso, como toda medida
pensada para driblar formalidades institucionais, a CSS, mesmo
no caso de ser aprovada no Senado e sancionada pelo presidente
da República, ficaria vulnerável
na Justiça. A Constituição proíbe
a criação de tributos cumulativos, que incidem em todas as etapas da cadeia produtiva, como é o
caso. A única maneira de instituir o novo imposto, sustentam
muitos tributaristas, seria por
meio de uma emenda à Carta.
Se não houvesse evidências de
que o governo -recordista em
arrecadação mesmo sem a
CPMF- prescinde de reforço
tributário para financiar a Saúde,
se não fosse cristalina a intolerância da sociedade a aumentos
na carga tributária e se a CSS não
estivesse sujeita a ser derrubada
no Supremo, ainda assim os senadores deveriam rejeitar a proposta oriunda da Câmara.
Deveriam rechaçá-la porque
afronta, lançando mão de verdadeira chicana parlamentar, uma
decisão soberana tomada pelo
Senado há seis meses.
Próximo Texto: Editoriais: Ameaça de censura
Índice
|