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CARLOS HEITOR CONY
Agora, Deus existe
RIO DE JANEIRO - Não lembro onde li, acho que em algum livro de
ficção cientifica, gênero que não
aprecio, mas volta e meia dou nele
uma ciscada para saber o que estão
inventando. Tirante Júlio Verne,
que acertou na mosca em muitos
lances, o resto é papo furado.
Arthur Clarke, por exemplo, em
"2001 - Uma Odisseia no Espaço",
imaginou que nesse ano estaríamos andando pelo espaço ao som
de "Danúbio Azul" e com um computador complicado capaz de ter
ciúmes.
Mas a história que queria contar
é mais cruel e, ao mesmo tempo,
mais provável. Num ano qualquer
do futuro, com os computadores
superdesenvolvidos no mercado,
uma equipe de técnicos pergunta
ao mais sofisticado deles se Deus
realmente existe. O computador
pede que seja conectado a todos os
outros computadores existentes no
mundo e aí responde: "Sim, agora
existe".
Por essas e por outras, sempre
encaro meu notebook com respeito, o mesmo respeito que dedico às
pessoas burras, que podem extrair
a raiz quadrada de um logaritmo,
mas são incapazes de acertar no bicho, coisa que às vezes eu consigo
sem muita dificuldade.
Outro dia, quis achar um amigo
que se chama Artur e coloquei o endereço dele sem o H. Qualquer carteiro imbecil entenderia que eu
queria me comunicar com um Artur, mas o computador declarou
que o meu Artur era inexistente.
Pior mesmo foi um sujeito que
descobriu só agora que meu nome
tem um ipsilone. Mandara uma
porção de e-mails para um tal Coni
e finalmente postou uma carta comum, dessas com cantoneiras em
verde e amarelo, reclamando de
minha má educação eletrônica.
Por falar nisso, nenhum autor de
ficção científica previu coisas simples como a fita durex e o emplastro
Sabiá. Muito menos o famoso e infalível emplastro Brás Cubas.
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