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Manobras legislativas
Grupos que controlam o Senado e a Assembléia paulista dão as costas à sociedade e ao bom senso para proteger aliados
A
S BASES governistas se
parecem nos momentos de apuro, não importa o selo partidário.
Em Brasília e em São Paulo, os
blocos majoritários do Senado e
da Assembléia Legislativa tratam de protelar investigações
que podem tornar-se incômodas. Quem é oposição e denuncia
as manobras na esfera federal
trata de promovê-las em âmbito
estadual -e vice-versa.
Após a mais recente tentativa
frustrada de enterrar sem a devida apuração o processo contra
Renan Calheiros (PMDB-AL), os
partidários do presidente do Senado adotam agora a tática de ganhar o maior tempo possível. Reforçam sua aposta em que o caso
seja esquecido ou perca força na
opinião pública com o passar de
algumas semanas.
Com fiéis correligionários ocupando postos estratégicos no
Conselho de Ética -Leomar
Quintanilha (TO) é o presidente
e Almeida Lima (SE) compõe o
esdrúxulo triunvirato de relatores-, a comissão conseguiu a
proeza de consumir uma semana
de trabalho para realizar uma solicitação. Trata-se do pedido de
complementação da perícia policial nos documentos que o investigado apresentou com o fito de
demonstrar que tinha condições
de bancar a pensão de sua filha.
Cabia à Mesa da Casa o ato protocolar de remeter o pedido do
Conselho de Ética à Polícia Federal. Em vez de despachar rapidamente, Renan Calheiros agendou a reunião da Mesa para terça
que vem. "Só marca reunião
quem ganha eleição", afirmou o
presidente do Senado, à vontade
para invocar um privilégio institucional em causa própria. Com
isso, apenas em meados de agosto, se tudo correr bem, a PF terá
concluído a perícia.
As bases governistas se parecem. Também por meio de um
ato de seu presidente, Vaz de Lima (PSDB), a Assembléia Legislativa de São Paulo empurrou para a frente -e bem para a frente- uma CPI para investigar a
Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano
(CDHU), do governo estadual.
Em meados de maio, a Polícia
Civil prendeu 17 pessoas sob a
acusação de integrarem um esquema de fraude em licitações de
casas populares no interior paulista. A coleta de documentos e
testemunhos levantou suspeitas
sobre o envolvimento do atual líder dos tucanos na Assembléia,
Mauro Bragato. O deputado, que
foi secretário estadual da Habitação sob Geraldo Alckmin, nega
participação no esquema.
Há relevância e urgência notórias no pedido de CPI para apurar a atuação da estatal paulista.
Segundo a polícia e a Procuradoria, o esquema funcionava em 21
cidades havia pelo menos sete
anos e movimentava R$ 2 milhões por mês. Mas, sob o pretexto de que é preciso obedecer a
uma ordem cronológica para a
instalação de CPIs -já havia 14
na fila de espera-, a presidência
da Assembléia empurrou o inquérito para, quem sabe, o segundo semestre de 2008.
Como visto, os grupos que controlam o Senado e a Assembléia
paulista se parecem em mais um
aspecto. Ambos não hesitam em
dar as costas à sociedade e ao
bom senso para proteger aliados.
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