São Paulo, sexta-feira, 13 de julho de 2007

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Indícios de abuso no Rio

A AÇÃO da polícia do Rio que confrontou o domínio do crime organizado no complexo de favelas do Alemão partiu de uma premissa estratégica correta -quebrar o pacto, tácito, de não-agressão com o narcotráfico-, que precisa continuar norteando a política de segurança de Sérgio Cabral (PMDB).
Os indícios de abuso da força na operação do último dia 27 dão ao governador a oportunidade de romper também um mito: o de que não há conciliação possível entre uma linha que prega o combate intransigente às máfias da droga e outra, que exige respeito aos direitos humanos.
A suspeita de que houve desvios é reforçada pelo tom defensivo e sigiloso com que as autoridades vão conduzindo o caso. A atitude lembra muito o comportamento do governo paulista por ocasião da investigação das mortes que se seguiram aos ataques do crime organizado em 2006.
Relatório de um médico-legista independente que teve acesso aos laudos do IML do Rio concluiu que, pelo ângulo dos disparos, de cima para baixo, algumas das pessoas que foram mortas estavam sentadas ou ajoelhadas; teriam sido rendidas pelos autores dos tiros. O perito também constatou ferimentos nos braços de cadáveres, o que é compatível com "conduta de autodefesa".
O governador continua a sustentar que as mortes decorreram do confronto. Nesse caso, porém, para que as investigações oficiais ganhem credibilidade, as autoridades deveriam contratar auditores independentes para acompanhá-las. Os laudos do IML precisam tornar-se públicos.
É preciso superar o temor de que apurações pontuais sobre abuso abalem o moral da polícia num momento de combate aberto ao crime. Ações como a do morro do Alemão devem prosseguir. Elas atendem, tanto quanto o imperativo de controlar o uso da força policial, à demanda por segurança da população do Rio.


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