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Indícios de abuso no Rio
A
AÇÃO da polícia do Rio que
confrontou o domínio do
crime organizado no complexo de favelas do Alemão partiu de uma premissa estratégica
correta -quebrar o pacto, tácito,
de não-agressão com o narcotráfico-, que precisa continuar
norteando a política de segurança de Sérgio Cabral (PMDB).
Os indícios de abuso da força
na operação do último dia 27 dão
ao governador a oportunidade de
romper também um mito: o de
que não há conciliação possível
entre uma linha que prega o
combate intransigente às máfias
da droga e outra, que exige respeito aos direitos humanos.
A suspeita de que houve desvios é reforçada pelo tom defensivo e sigiloso com que as autoridades vão conduzindo o caso. A
atitude lembra muito o comportamento do governo paulista por
ocasião da investigação das mortes que se seguiram aos ataques
do crime organizado em 2006.
Relatório de um médico-legista independente que teve acesso
aos laudos do IML do Rio concluiu que, pelo ângulo dos disparos, de cima para baixo, algumas
das pessoas que foram mortas
estavam sentadas ou ajoelhadas;
teriam sido rendidas pelos autores dos tiros. O perito também
constatou ferimentos nos braços
de cadáveres, o que é compatível
com "conduta de autodefesa".
O governador continua a sustentar que as mortes decorreram
do confronto. Nesse caso, porém,
para que as investigações oficiais
ganhem credibilidade, as autoridades deveriam contratar auditores independentes para acompanhá-las. Os laudos do IML
precisam tornar-se públicos.
É preciso superar o temor de
que apurações pontuais sobre
abuso abalem o moral da polícia
num momento de combate aberto ao crime. Ações como a do
morro do Alemão devem prosseguir. Elas atendem, tanto quanto
o imperativo de controlar o uso
da força policial, à demanda por
segurança da população do Rio.
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