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IGOR GIELOW
Um país incomum
BRASÍLIA - José Sarney deixou o
Planalto sob uma crise incomensurável, tendo levado o país à ruína financeira e abrindo caminho para o
salvacionismo medonho de Collor.
Mas refez sua imagem. O presidente da hiperinflação foi suplantado pelo fiador da transição democrática. Dezenas de denúncias de
mandonismo, desvio de dinheiro e
afins perderam-se. Para toda uma
geração, a ferrovia Norte-Sul era
exemplo acabado de tramoia no paraíso das empreiteiras que é o Brasil; agora, é incensada como modelo
de desenvolvimento.
Adulado por seus sucessores, que
sempre precisaram do PMDB, Sarney viu o mesmo Lula que lhe pedia
a cabeça transformar-se em seu
principal defensor.
Portanto, é possível que sim, ele
sobreviva politicamente a mais esse
turbilhão. Mesmo que os indícios
de irregularidades associadas a seu
nome sejam abundantes. Ou que a
CPI da Petrobras pareça desastre
anunciado ao governo.
Sarney reflete um Brasil patrimonialista, imorredouro em sua
elite política. São incomuns mesmo, o homem e o país.
Outro peemedebista, Nelson Jobim
(Defesa), está em Paris para fechar
acordos militares conhecidos, mas
cujas cifras ao longo dos anos são
um mistério. São dezenas de bilhões de reais.
Ele aproveitará e
voará num Rafale, o caça francês
que disputa outra bilionária concorrência, o projeto F-X2 da FAB.
Alguns brigadeiros e os competidores suecos e americanos não gostaram do "timing" do voo: a FAB já recebeu as propostas finais e encaminhará sua escolha a Jobim.
Ele levará o parecer a Lula para
uma decisão política. O Eliseu adoraria ver os acordos, mais o F-X2,
serem anunciados na visita de Nicolas Sarkozy para o 7 de Setembro.
Se o escolhido dos militares não for
o Rafale, aí veremos se realmente
esse é o Ano da França no Brasil.
igor.gielow@grupofolha.com.br
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