São Paulo, segunda-feira, 13 de julho de 2009

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RICARDO MELO

Só depois das cinco

SÃO PAULO - O presidente do Senado, José Sarney, pode tentar o quanto quiser, mas nada apaga a certeza de que, por conivência ou omissão, patrocinou uma rede de compadrio à custa de recursos públicos. Dinheiro este que certamente o Maranhão agradeceria tivesse sido utilizado para mitigar a miséria do Estado que deu fama e fortuna ao senador.
Presidencialista, o regime brasileiro descarta a dissolução do Legislativo e convocação de eleições parlamentares em situações de calamidade como a do Senado. Resta, portanto, a alternativa de trocar Sarney... por quem? O tucano Arthur Virgílio, que ora posa de vestal, ainda não conseguiu explicar sua estadia em Paris às expensas da Agacieltur. Marconi Perillo, o vice, ostenta currículo tão embaraçado -e embaraçoso- que o próprio PSDB teme virar a bola da vez caso o posto caia no colo do correligionário.
O PT talvez seja o mais PatéTico. Sai de guarda-chuva no sol e veste sunga em pleno temporal. Seu ex-candidato, Tião Viana, foi pilhado gastando dinheirama alheia para custear o celular da filha. Agora, o partido pede licença a Lula para pedir a licença de Sarney e nem sequer isto consegue. Como último recurso, seus senadores aparentam crise existencial e invocam "a governabilidade" -mantra para disfarçar a acomodação completa aos confortos do poder.
Ah, existe o DEM. Isso mesmo, aquele que apoiou Sarney e, antes disso, todos e qualquer um, e que finge cara de susto diante dos escândalos sem fim...
A má notícia: o que está por vir é desanimador. Num país em que a candidata da situação ao Planalto maquia até o currículo e o rival da oposição recebe mimo de ONG dizendo que é prêmio da ONU -num país assim, a melhor opção continua a ser tocar a vida, vigiar os políticos e, em dia de eleições, sair de casa só depois das cinco.

ricardo.melo@grupofolha.com.br


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