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RICARDO MELO
Só depois das cinco
SÃO PAULO - O presidente do Senado, José Sarney, pode tentar o
quanto quiser, mas nada apaga a
certeza de que, por conivência ou
omissão, patrocinou uma rede de
compadrio à custa de recursos públicos. Dinheiro este que certamente o Maranhão agradeceria tivesse
sido utilizado para mitigar a miséria do Estado que deu fama e fortuna ao senador.
Presidencialista, o regime brasileiro descarta a dissolução do Legislativo e convocação de eleições parlamentares em situações de calamidade como a do Senado. Resta, portanto, a alternativa de trocar Sarney... por quem? O tucano Arthur
Virgílio, que ora posa de vestal, ainda não conseguiu explicar sua estadia em Paris às expensas da Agacieltur. Marconi Perillo, o vice, ostenta
currículo tão embaraçado -e embaraçoso- que o próprio PSDB teme virar a bola da vez caso o posto
caia no colo do correligionário.
O PT talvez seja o mais PatéTico.
Sai de guarda-chuva no sol e veste
sunga em pleno temporal. Seu ex-candidato, Tião Viana, foi pilhado
gastando dinheirama alheia para
custear o celular da filha. Agora, o
partido pede licença a Lula para pedir a licença de Sarney e nem sequer isto consegue. Como último
recurso, seus senadores aparentam
crise existencial e invocam "a governabilidade" -mantra para disfarçar a acomodação completa aos
confortos do poder.
Ah, existe o DEM. Isso mesmo,
aquele que apoiou Sarney e, antes
disso, todos e qualquer um, e que
finge cara de susto diante dos escândalos sem fim...
A má notícia: o que está por vir é
desanimador. Num país em que a
candidata da situação ao Planalto
maquia até o currículo e o rival da
oposição recebe mimo de ONG dizendo que é prêmio da ONU -num
país assim, a melhor opção continua a ser tocar a vida, vigiar os políticos e, em dia de eleições, sair de
casa só depois das cinco.
ricardo.melo@grupofolha.com.br
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