São Paulo, quarta, 13 de agosto de 1997.



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Refém do corporativismo

VALDO CRUZ
Brasília - A saída do governador Vitor Buaiz (ES) do PT é a síntese do que acontece com a legenda em todo o país: o partido se tornou vítima do corporativismo estatal, uma das suas principais bases de apoio.
O enfraquecimento do sindicalismo privado, berço do partido, levou o PT a se apegar aos sindicatos de servidores públicos.
Isso acabou levando os petistas a viver um impasse nos locais onde são governo: como colocar a casa em ordem sem atingir os interesses e até alguns privilégios dos funcionários públicos, seus eleitores?
Uma tarefa impossível, diante do inchaço da máquina pública e de estatais ineficientes. Buaiz percebeu isso e não conseguiu governar com o PT.
Algo parecido acontece com o também governador petista Cristovam Buarque (DF). Ele adotou idéias inovadoras, como a bolsa-escola, reduziu a violência no trânsito e vem cuidando bem da cidade.
Apesar disso, não escapa das críticas dos funcionários públicos e de líderes do partido na capital. Nas pesquisas de opinião, sempre aparece com uma avaliação ruim.
A situação vivida pelos dois governadores mostra que o partido não tem escolha. Ou enfrenta a resistência das entidades sindicais vinculadas ao Estado ou se transforma num eterno refém do corporativismo.

A saída de Buaiz do PT me faz recordar uma conversa com deputados do PT de Minas Gerais, no ano passado. O assunto era a administração petista de Patrus Ananias na Prefeitura de Belo Horizonte.
O que mais ouvi foram críticas ao então prefeito. Disse que achava estranho. Minha família mora em Belo Horizonte, ninguém é petista, mas todos elogiavam o governo Patrus Ananias.
Afinal, quem estaria certo? -perguntei aos petistas da mesa. A resposta foi decepcionante: "Olha, pra falar a verdade, o Patrus está fazendo um bom governo. Mas a gente não pode apoiá-lo. É desvio ideológico mesmo".
Precisa falar mais alguma coisa?



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