São Paulo, sexta-feira, 13 de agosto de 2004

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ELIANE CANTANHÊDE

Investigação zero

BRASÍLIA - A economia dá boas notícias, Lula cresce dez pontos nas pesquisas, Marta Suplicy conquista a dianteira da eleição em São Paulo.
E como o governo comemora? Anunciando uma autarquia para "orientar, disciplinar e fiscalizar" a atividade dos jornalistas e, agora, um decreto para controlar o acesso da imprensa a informações de funcionários envolvidos em investigações.
Não chega a ser surpresa. O governo já vinha defendendo a "lei da mordaça" para calar procuradores incômodos. E, afinal, sabe muito bem do que funcionários petistas de ministérios e estatais são capazes. Eles têm acesso a informações, estão carecas de saber que sem a imprensa nenhuma investigação anda e saem por aí distribuindo a papelada.
Fizeram isso durante anos e anos, com a cumplicidade da cúpula do partido. Agora, já não servem mais para o bem da pátria, das instituições e da moralidade pública. Como o mundo dá voltas: o que era "do bem" virou uma ameaça "do mal". A não ser que o alvo não seja os funcionários petistas, mas os outros. Quem sabe os do PPS no Banco do Brasil? Ou os do PFL na CEF? Ou os do PSDB na Esplanada dos Ministérios?
Do jeito que a coisa vai, nem as CPIs vão resistir. Elas já derrubaram um presidente, revelaram o juiz Lalau ao mundo e cassaram o primeiro senador da República e vários outros parlamentares por suspeita de desvios, mas correm o risco de cair, no mínimo, no ridículo.
Com o petista José Mentor e o tucano Antero Paes de Barros, a CPI do Banestado deixou de ser coisa séria para virar palco de disputas menores e dos maiores absurdos, como a quebra de sigilos a torto e a direito, sabe-se lá com que finalidade.
Enfim, as coisas estão no seguinte pé: os procuradores não devem procurar, os repórteres não devem reportar, os funcionários investigativos não devem funcionar. E já não se fazem CPIs como antes.
Desse jeito, o governo do PT vai para o paraíso sem freios e contrapesos que todo governo pede a Deus.


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