São Paulo, sábado, 13 de agosto de 2005

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CLÓVIS ROSSI

A desculpa que faltou

SÃO PAULO - O pobre discurso do presidente da República acaba sendo apenas a confirmação do que já se vinha notando desde o início da crise: Luiz Inácio Lula da Silva é inepto como piloto de tormenta.
Como líderes são necessários, acima de tudo, nas horas de crise, Luiz Inácio Lula da Silva de certa forma demitiu-se ontem dessa função. Pode até permanecer na Presidência da República até o final do mandato, mas ficará como o que os norte-americanos adoram chamar de "lame duck" (literalmente, pato manco; no jargão político, um dirigente abalado, portanto manco).
Líder que é líder e se acha traído dá o nome aos traidores, em vez de proteger o traidor pela ocultação.
Líder que é líder não diz que o governo deve desculpas ou que o PT deve desculpas, como se ele não fosse o líder de ambos e não devesse, portanto, dizer com todas as letras e a coragem que lhe faltou: "Eu peço desculpas". A primeira pessoa do singular era inescapável. O "nós" não a substitui, nas circunstâncias.
Pedir desculpas para valer exigiria dizer que foi Lula, e ninguém mais, quem traiu a história de seu partido, certa ou errada.
Lula sabia perfeitamente que comprar os serviços de Duda Mendonça é luxo que só poderia ser pago da forma como foi, ainda mais tendo como tesoureiro um certo Delúbio Soares, de plena confiança do presidente, outra omissão na desculpa.
Luiz Inácio Lula da Silva sabia perfeitamente que comprar o apoio do PL teria um preço não exatamente ético, como atesta agora o ex-presidente da legenda, o notório Valdemar Costa Neto. Fez questão de comprá-lo assim mesmo.
Luiz Inácio Lula da Silva sabia perfeitamente o preço para ter o apoio do PTB de Roberto Jefferson. Está pagando-o agora, na forma de uma crise muito maior que a sua aptidão para enfrentá-la.

@ - crossi@uol.com.br


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