São Paulo, sábado, 13 de agosto de 2005

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

FERNANDO RODRIGUES

Eutanásia incerta

BRASÍLIA - A que ponto chegou a administração federal do PT. O melhor cenário previsto para o presidente Lula é torcer para seu governo sobreviver vegetando até dia 31 de dezembro de 2006. Está como um doente terminal numa UTI. Tem danos no cérebro ainda não totalmente conhecidos. Talvez nunca mais consiga caminhar. Suas funções vitais são mantidas por aparelhos.
As máquinas e os tubos impedindo a transformação de Lula num cadáver político atendem pelo nome de popularidade e economia.
A aprovação do petista vem caindo. Mas são respeitáveis os 31% de "bom e ótimo" e os 41% de "regular". Nenhum grupo político de relevância defende em público uma eutanásia para o governo. OK, a palavra impeachment é usada abertamente. Só que para recomendar cautela. "Não adianta querer impor o impedimento sem vontade popular", analisa o líder do PFL no Senado, José Agripino.
Esse é o consenso em Brasília. Mesmo depois das últimas duas bombas. Primeiro, a confissão de Duda Mendonça sobre o caixa dois do PT em 2002. Depois, a entrevista do ex-deputado Valdemar Costa Neto à revista "Época" acusando Lula de saber do acerto financeiro traficado entre o PL e a direção petista.
Se o Brasil fosse o Japão, alguns deputados cometeriam suicídio pulando de uma das torres do Congresso. Se o Brasil fosse a Suécia, possivelmente alguns já estariam cassados, inclusive o presidente da República. Mas aqui é o Brasil. Outro padrão.
E tem a economia. Em setembro de 1992, ao sofrer o impeachment, Fernando Collor segurava uma inflação anual de 1.131,47% (Fipe) -e só 9% de aprovação no Datafolha. Hoje, a alta de preços nos últimos 12 meses foi de 6,2%. É muito diferente. Eutanásia e/ou impeachment do governo federal não é algo tão próximo como possa parecer. A maior característica da atual crise é o alto grau de imprevisibilidade de seu desfecho. Nunca nos esqueçamos. Aqui é o Brasil.

@ - frodriguesbsb@uol.com.br


Texto Anterior: São Paulo - Clóvis Rossi: A desculpa que faltou
Próximo Texto: Rio de Janeiro - Carlos Heitor Cony: Plural majestático
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.