São Paulo, quarta-feira, 13 de agosto de 2008

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RUY CASTRO

Visitas exóticas

RIO DE JANEIRO - Quando Carmen Miranda chegou aos EUA, em 1939, perguntaram-lhe se era verdade que no Rio havia cobras circulando pelas ruas. Ela respondeu: "É. Tanto que, em Copacabana, temos uma calçada só para elas". Estava brincando, claro, mas nem tanto. Ensanduichado por mar e montanha, o Rio sempre recebeu visitas exóticas.
Há dez anos, uma jibóia de dois metros foi capturada ao passear alegremente pela praça 15. Tempos depois, um jacaré papo-amarelo se materializou num quartel da PM em Sulacap, zona oeste. E, mais há pouco, tubarões deram um bordejo até a Barra para apreciar o futevôlei. Só faltou um bando de urubus-jerebas aparecer para o almoço na churrascaria Porcão.
Só que, agora, está demais. Nessa época do ano, um ou outro pingüim sempre deu com os costados por aqui, mas, com o desmanche das geleiras, famílias inteiras estão chegando às nossas praias. Outro dia, o tenista Guga foi visto surfando no Arpoador com um pingüim no colo. Sem falar nos micos. Todos os dias, macacos-prego escalam prédios e penetram em apartamentos na Tijuca. Na semana passada, um sagüi desceu da árvore e entrou pela porta da frente do Shopping da Gávea. Foi apanhado e devolvido à árvore, mas não se conformou: desceu dela e entrou de novo pela mesma porta. O que significa isso? Que os bichos parecem achar a cidade mais saudável que seus ambientes naturais. Estamos infernizando de tal maneira seus habitats que alguns deles deveriam cobrar taxa de insalubridade para continuar morando no mato.
Acha exagero? Imagine as araras, residentes seculares do morro Chapéu Mangueira. Hoje têm de competir em alarido com bailes funk, comícios evangélicos e rajadas de metralhadoras. Vencidas pela zoeira, já se sabe de araras a fim de fazer voto perpétuo de silêncio.


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