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RUY CASTRO
Visitas exóticas
RIO DE JANEIRO - Quando Carmen Miranda chegou aos EUA, em
1939, perguntaram-lhe se era verdade que no Rio havia cobras circulando pelas ruas. Ela respondeu:
"É. Tanto que, em Copacabana, temos uma calçada só para elas". Estava brincando, claro, mas nem
tanto. Ensanduichado por mar e
montanha, o Rio sempre recebeu
visitas exóticas.
Há dez anos, uma jibóia de dois
metros foi capturada ao passear
alegremente pela praça 15. Tempos
depois, um jacaré papo-amarelo se
materializou num quartel da PM
em Sulacap, zona oeste. E, mais há
pouco, tubarões deram um bordejo
até a Barra para apreciar o futevôlei. Só faltou um bando de urubus-jerebas aparecer para o almoço na
churrascaria Porcão.
Só que, agora, está demais. Nessa
época do ano, um ou outro pingüim
sempre deu com os costados por
aqui, mas, com o desmanche das
geleiras, famílias inteiras estão chegando às nossas praias. Outro dia, o
tenista Guga foi visto surfando no
Arpoador com um pingüim no colo.
Sem falar nos micos. Todos os dias,
macacos-prego escalam prédios e
penetram em apartamentos na Tijuca. Na semana passada, um sagüi
desceu da árvore e entrou pela porta da frente do Shopping da Gávea.
Foi apanhado e devolvido à árvore,
mas não se conformou: desceu dela
e entrou de novo pela mesma porta.
O que significa isso? Que os bichos
parecem achar a cidade mais saudável que seus ambientes naturais.
Estamos infernizando de tal maneira seus habitats que alguns deles
deveriam cobrar taxa de insalubridade para continuar morando no
mato.
Acha exagero? Imagine as araras,
residentes seculares do morro Chapéu Mangueira. Hoje têm de competir em alarido com bailes funk,
comícios evangélicos e rajadas de
metralhadoras. Vencidas pela zoeira, já se sabe de araras a fim de fazer
voto perpétuo de silêncio.
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