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O vírus se espalha
Crise do Senado extravasa a instituição e atinge outros setores do Estado e até o princípio da liberdade de imprensa
CONFORME o dia e a ocasião, passam do ridículo
ao revoltante, e do grave
ao pitoresco, as tentativas que se adotam no Senado para neutralizar os efeitos da crise
atualmente em curso.
As irregularidades cometidas
ao longo dos últimos tempos
compõem, por si mesmas, um
prontuário suficientemente carregado, obra coletiva de senadores oriundos dos mais variados
agrupamentos partidários. Mas
o escândalo não se resume a isso.
A utilização da máquina pública em interesse próprio vai extravasando os muros do Senado
para atingir a totalidade das instituições republicanas.
O jornal "O Estado de S. Paulo"
noticia o andamento de uma
operação da Polícia Federal envolvendo a família Sarney. Mobiliza-se então um desembargador, de notórias relações com o
clã -e revive-se, em pleno Estado democrático, a censura à
imprensa.
Os interesses sarneyzistas se
chocam com as atividades da Receita Federal: eis que a secretária
do órgão, Lina Vieira, é demitida.
Se é difícil encontrar provas concretas da relação entre os dois
acontecimentos, tudo se torna
mais plausível a partir das declarações de Lina Vieira quanto às
pressões que teria recebido para
"agilizar o caso".
Assinale-se que a ministra Dilma Rousseff nega a existência de
um encontro sigiloso no qual tivesse enunciado qualquer coisa
nesse sentido. É a palavra de
uma autoridade, nem sempre em
pleno domínio das informações
sobre seu próprio currículo, contra a de uma funcionária demitida, sem dúvida disposta a queimar as pontes que a vinculavam
ao aparelho petista.
Aparelho por aparelho, vê-se a
antiga "República de Alagoas"
aliada à oligarquia maranhense e
a petistas num estado mental
que oscila entre a catatonia e o
alopramento. As notas monótonas de uma cantilena tradicional
-a da "governabilidade"- entoam-se em nome dos interesses
lulistas a favor do respaldo peemedebista à candidatura Dilma
Rousseff.
Nesse contexto, o presidente
Lula propõe a concessão de uma
emissora de rádio ao filho do senador Renan Calheiros (PMDB-AL). É como se as mais diversas
áreas de atuação do poder público se colocassem a serviço das
oligarquias de sempre, quanto
mais estas se veem desmascaradas em seu comportamento.
Vem, por fim, a nota pitoresca.
Depois de manifestantes terem
invadido o plenário do Senado,
aos gritos de "Fora, Sarney", decidiu-se pela proibição das visitas à Casa. O motivo oficial seria
evitar a contaminação pela gripe
suína.
Mas o vírus presente no Senado é de outro tipo. Atinge tanto
governistas quanto a oposição. O
apego do senador Arthur Virgílio
ao cargo de líder do PSDB é tão
intenso, cabe lembrar, quanto o
de seu maior adversário.
Cuidados básicos de higiene,
hoje tão em voga, são ignorados
na política brasileira -e, se há algum inocente em toda a história,
trata-se sem dúvida da simpática
categoria dos suínos, que leva a
culpa pela gripe, enquanto lodaçais de outro tipo se frequentam
com grande espalhafato e gosto.
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